Título: PELO MANDATO, CASSÁVEIS REZAM A TODOS OS SANTOS
Autor: Evandro Éboli
Fonte: O Globo, 13/11/2005, O País, p. 13

Deputados invocam testemunho de ministros, políticos influentes e até de líderes católicos

BRASÍLIA. Em busca da salvação de seus mandatos, alguns deputados petistas acusados de quebra de decoro parlamentar estão recorrendo até a forças religiosas. Para defendê-los no Conselho de Ética, dois deles, José Mentor (SP) e João Magno (MG), estão invocando os testemunhos de líderes da Igreja Católica. Os parlamentares estão arrolando também como suas testemunhas vários ministros do governo Lula e outros políticos poderosos e influentes. É o vale-tudo para continuar deputado e não tornar-se inelegível por oito anos.

Ao indicar ministros como suas testemunhas de defesa, os deputados seguem o exemplo de José Dirceu (PT-SP), que recorreu aos depoimentos de Márcio Thomaz Bastos (Justiça) e de dois ex-ministros, Aldo Rebelo (Coordenação Política) e Eduardo Campos (Ciência e Tecnologia). Ainda assim, Dirceu foi derrotado no conselho por 13 a l.

Mentor indicou vice da CNBB como testemunha

José Mentor indicou como sua testemunha de defesa dom Antônio Celso Queiroz, vice-presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Os dois se conhecem desde a época em que o religioso era bispo da região de Ipiranga, em São Paulo.

¿ É um amigo de longa data. E o chamei para falar de meus antecedentes. Atuei como advogado de movimentos sociais ¿ disse José Mentor.

O deputado responde a processo por quebra de decoro por ter recebido R$120 mil de Rogério Tolentino, sócio do publicitário Marcos Valério Fernandes. Ele foi acusado também de ter beneficiado o Banco Rural quando era relator da CPI do Banestado. Para provar que não beneficiou o banco, o deputado chamou para testemunhar o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Ele arrolou ainda o ministro Márcio Thomaz Bastos e o ex-presidente da OAB Rubens Approbato.

João Magno chama dois ministros e um ex-ministro

João Magno (PT-MG) foi buscar o apoio de dom Lélis Lara, bispo emérito de Coronel Fabriciano (MG). Além do religioso, o parlamentar chamou como suas testemunhas dois ministros ¿ Patrus Ananias (Desenvolvimento Social) e Hélio Costa (Comunicações) ¿ e o ex-ministro Nilmário Miranda (Direitos Humanos). Todos mineiros como ele. Patrus e Nilmário são antigos amigos de Magno da fundação do PT em Minas. O deputado apoiou Costa para senador e os dois atuam na defesa de mineiros presos como imigrantes ilegais nos Estados Unidos. O deputado explicou a razão deles terem aceitado ser testemunha de defesa.

¿ Todos eles ficaram sensibilizados com a minha situação. A tese da minha defesa é baseada no princípio da boa fé e da verdade. Essas pessoas convivem comigo e conhecem minha luta pela ética na política ¿ disse João Magno.