Título: SUCESSÃO: SERRA E ALCKMIN MEXEM SUAS PEÇAS
Autor: Soraya Aggege
Fonte: O Globo, 13/11/2005, O País, p. 14

Segurança pública é um dos pontos a serem atacados por prefeito e governador de São Paulo na campanha

SÃO PAULO. O candidato à sucessão do presidente Lula pelo PSDB será escolhido apenas entre fevereiro e março, mas em São Paulo, ninho tucano, a disputa entre os dois principais postulantes está acirrada. A competição entre o governador Geraldo Alckmin e o prefeito José Serra já aparece disfarçada na propaganda dos governos. Blindados contra as críticas da oposição, os dois fazem a competição sobre o tabuleiro partidário, mas começam a disputar as mesmas vitrines eleitorais, admitem alguns de seus articuladores.

Calcanhar-de-aquiles de Alckmin, a segurança entrou na propaganda do governo semana passada de forma ¿preventiva¿, explicam seus apoiadores. Embora alardeiem melhoras, como a queda de homicídios e a desativação de carceragens em situação irregular, os tucanos avaliam que a segurança será cobrada na campanha em 2006, já que os seqüestros aumentaram e o debate do desarmamento amplificou o item na cesta-básica política para o ano que vem.

¿ Alckmin não está ruim na segurança, mas sabemos que será cobrado ¿ diz um tucano do grupo do governador.

Coincidência ou estratégia eleitoral, o fato é que o prefeito também passou a investir no item segurança, embora a atribuição seja mais do estado. Serra tem feito barulho e ganhado apoios com a Lei Seca que acaba de lançar na periferia. A prefeitura fez mais de 11 mil vistorias para evitar que os bares vendam álcool após as 22h a moradores dos bairros pobres.

Na avaliação dos serristas, o país vive uma certa crise de autoridade, um bom mote tucano para 2006, segundo alguns cardeais do partido.

¿ Se Serra fosse mais partidário e mais humilde, poderia fazer grandes ações com Alckmin, juntando os pontos fortes e fracos de cada um ¿ reclama um integrante do grupo do governador.

¿ Alckmin tem medo dos trabalhos conjuntos porque Serra tem mais destaque nacional e ele precisa se projetar sozinho. Serra está deixando. Ele só sairá candidato se conseguir superar a gestão petista e, para isto, está jogando no varejo ¿ reage um serrista.

Acima das futricas tucanas, governador e prefeito têm aparecido juntos em público. Mas trabalhar juntos, com correspondência direta entre os dois governos, como ambos prometeram na campanha de 2004, não conseguem. Pelo menos é o que diz a oposição:

¿ Cadê a otimização das escolas que eles iam fazer juntos? Essa união é puro marketing. Serra não fala de 2006 porque prometeu ficar no mandato até o fim (2008), mas tem feito de tudo para se viabilizar¿ diz o vereador Paulo Fiorillo, presidente do PT em São Paulo.

Mas, na lógica tucana, mesmo os que admitem a disputa entre governador e prefeito consideram que o desempenho de cada um vai compor em São Paulo um bom quadro de gestão para o país. É o que argumenta, por exemplo, o deputado federal Alberto Goldman (PSDB-SP).

¿ Cada um está fazendo o máximo no seu campo para se cacifar. Como são ações para se credenciar, o saldo é positivo ¿ afirma Goldman.

¿ Depois eles se juntam e um ajuda o outro. No fundo São Paulo é uma vitrine só para o PSDB ¿ diz outro cacique tucano.

Pontos fracos de um e outro já entram na disputa

Já pesam na disputa os pontos fracos e os fortes de cada um, segundo os tucanos. O médico Geraldo Alckmin tem o item saúde como ponto fraco, além da segurança. Já o economista José Serra, que foi ministro da Saúde, ganha nessa área, mas tem a área de responsabilidade fiscal e de gestão enfraquecida, avaliam. Por isso, Serra lançou o programa ¿Não dê esmola, dê futuro¿, que serve à área social (ponto fraco de Alckmin) e tenta destacar o lado economista.

Um dos lances polêmicos de Serra é pouco ortodoxo, na opinião do grupo que apóia o governador Alckmin. Serra aplicou no mercado financeiro um caixa com pouco mais de R$2 bilhões da prefeitura. Quer usá-lo entre dezembro e janeiro, quando os cofres municipais ficam na seca, de modo a poder iniciar obras no início de 2006.

As obras previstas são todas para recuperar o suposto ¿mal feito¿ do PT, como os túneis, a rodovia Jacupessego e até o Fura-Fila, um corredor expresso de ônibus considerado antes um elefante branco deixado por Celso Pitta em 2000, modificado em seu conceito, mas que não foi recuperado por sua antecessora, Marta Suplicy (PT). Os gastos com o corredor chegaram a R$600 milhões e Serra quer ajuda do governo federal para concluir com mais R$400 milhões até o fim de 2006.

¿ Vamos mostrar que Serra recupera o que o PT estraga. Isto, no plano nacional, será muito bom em 2006 ¿ diz um articulador do grupo serrista.

O secretário da Casa Civil de Alckmin, Arnaldo Madeira, discorda de que Serra e Alckmin estejam desagregados, mas acha óbvio que os dois grupos comecem a se digladiar até que o acordo político do tucanato se efetive, por volta de março.

¿ As pesquisas, que sorriem para Alckmin, gargalham para Serra, que não se coloca como candidato para ninguém, está em silêncio. Creio que os dois precisam um do outro, e faltam elementos neste jogo, que é muito complexo ¿ afirma o secretário de Subprefeituras de Serra, Walter Feldman.

Para José Aníbal, líder de Serra na Câmara dos Vereadores, a crise do PT precipitou a discussão interna do PSDB:

¿ O PSDB terá que construir uma equação para o próximo governo. Menos juros, mais crescimento econômico real, redução da máquina que o PT criou. No momento, temos dois personagens percebidos como bons gestores. Não há fadiga de material e a possível disputa é muito saudável.