Título: Polícia pedirá revisão das licenças da Feema
Autor: Antônio Werneck
Fonte: O Globo, 10/11/2004, Rio, p. 14

Com base nas investigações de mais de dois anos da operação Poeira no Asfalto, o delegado Cláudio Nogueira, da Polícia Federal de Brasília, vai pedir à Justiça federal que determine uma rigorosa revisão de todos as licenças ambientais aprovadas pela Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente (Feema) nos últimos dois anos. Escutas telefônicas comprovaram o envolvimento de funcionários na concessão de licenças em troca de propinas. Nas ligações gravadas pela PF, os funcionários citam diretores da Feema que supostamente receberiam propinas.

¿ Cada situação na Feema tinha um preço ¿ disse o delegado Claudio Nogueira, que comandou as operações.

Um dos principais beneficiários do esquema de propinas para liberação de licença seria o empresário do ramo de combustíveis Renan de Macedo Leite, o Bam-Bam, dono de pelo menos 25 postos de gasolina no Rio. Bam-Bam foi preso anteontem em sua casa na Barra da Tijuca.

Os principais envolvidos no esquema e que foram presos pela PF são o químico Thelio Moreira da Costa Lima, de 54 anos; Joseléa Borges de Oliveira, de 50 anos; e Sandro Almeida Domingues, funcionário da prefeitura de Duque de Caxias e que estava cedido à Feema.

Pelo menos um político da Baixada Fluminense, com mandato em Duque de Caxias, foi citado diversas vezes por Sandro como beneficiário do esquema de liberação de propinas.

¿ Olha só: a alta cúpula sabe do esquema e quer a parte dela ¿ chegou a dizer Sandro Domingues a um político da Baixada Fluminense em uma das ligações gravadas pela Polícia Federal.

Em outra interceptação, Sandro chegou a afirmar a um político da Baixada Fluminense:

¿ Nós mandamos na Feema.

Secretaria anuncia sindicância na Feema

Diante das denúncias de envolvimento de outros funcionários da Feema no esquema de propinas, a Secretaria estadual de Meio Ambiente informou à tarde que a direção do órgão já abriu sindicância interna para apurar os fatos levantados pela Polícia Federal.

A secretária interina, Isaura Fraga, havia preparado uma nota oficial para divulgar para a imprensa, mas decidiu aguardar uma informação oficial da PF. Como ainda não teve acesso ao inquérito policial, a nota só deverá ser divulgada hoje.

Informada pelo GLOBO dos detalhes da investigação, a presidente da Feema, Elizabeth Lima, esteve no início da noite na Superintendência da PF, para conversar com os responsáveis pelas investigações.

O empresário Renan, segundo a PF, teria conseguido liberar uma obra de um posto de gasolina em Macaé, pagando propinas aos fiscais. Para cada autorização para construção, os fiscais receberiam, segundo a PF, entre R$ 5 mil e 10 mil.

¿ O esquema envolvia muita gente. As liberações geralmente eram assinadas por diretores da Feema. Se assinavam, supomos que tinham informação da situação dos processos. É isso que estamos investigando ¿ disse um delegado envolvido nas investigações.