Título: FUNDOS ATRELADOS À INFLAÇÃO TÊM O SEGUNDO PIOR DESEMPENHO DO ANO
Autor: Patricia Eloy
Fonte: O Globo, 14/11/2005, Economia, p. 15

Após figurar, nos últimos três anos, como uma das melhores opções de investimento, os fundos que aplicam em títulos indexados à inflação ¿ os chamados fundos de inflação ¿ acumulam, em 2005, o segundo pior resultado da indústria de fundos. Ficam atrás apenas dos fundos cambiais. No ano, têm ganhos minguados de 5,97% (resultado bruto, isto é, sem desconto do Imposto de Renda), contra perdas de 16,23% das aplicações atreladas ao dólar, de acordo com dados do site Fortuna, que monitora a indústria de fundos de investimento.

Segundo gestores, como o cenário de médio prazo não parece reservar uma recuperação para os fundos de inflação, a recomendação agora é aplicar em fundos DI ou de renda fixa, para que o investidor tire partido dos juros altos ¿ hoje em 19% ao ano.

Há três anos, a história era outra: no auge da crise eleitoral, a disparada do dólar impulsionou os ganhos dos fundos de inflação, que chegaram ao fim de 2002 com uma rentabilidade de 30% ¿ bem acima dos 19,11% do CDI, usado como referência para as aplicações financeiras ¿ e patrimônio de R$7 bilhões. Em 2003 e 2004, esses fundos ainda tiveram valorização de 23% e 18%, respectivamente.

A forte queda do dólar este ano derrubou a rentabilidade dos fundos de inflação. Isso porque a grande maioria acompanha a trajetória do IGP-M, e os preços no atacado, que correspondem a 60% do índice, são diretamente afetados pela variação cambial. Em tempos de dólar em baixa ¿ no ano, a cotação caiu 18,46% ¿ as notícias não são boas para esse tipo de aplicação, que tem perdido recursos mês a mês.

IGP-M pode fechar o ano em seu menor nível

Elson Teles, economista da corretora Concórdia, estima que a inflação pelo IGP-M, que ficou em 0,6% em outubro, deve cair para 0,3% a 0,4% este mês. Segundo ele, o índice deve fechar o ano em cerca de 1,5%:

¿ Deve ser a menor taxa da história do IGP-M, resultado de uma queda forte do dólar em 2005. Embora haja uma perspectiva de recuperação do câmbio a curto prazo, não acredito que a moeda ultrapasse os R$2,30, o que deve garantir um IGP-M ainda bastante baixo no início de 2006.

Sem perspectiva de recuperação à vista, os investidores têm batido em retirada desses fundos. Dados do site Fortuna mostram que o patrimônio líquido dos fundos de inflação hoje é de apenas R$370 milhões. No ano, os fundos perderam o equivalente a R$982 milhões.

¿ O desempenho muito ruim deste ano afugentou os investidores. E não deve ser muito diferente no ano que vem, pois não há previsão de repique para a inflação. Por isso, temos visto muitos investidores migrando desses fundos para as aplicações em renda fixa, consideradas bem menos arriscadas e ainda com ganhos elevados ¿ diz o vice-presidente sênior de fundos de investimento do banco WestLB no Brasil, Mário Carvalho.

Um exemplo disso é que o fundo WestLB Inflation IGP-M, que já teve patrimônio de R$140 milhões em 2002, agora tem pouco mais de R$7,5 milhões. Movimento similar ocorreu no HSBC, onde o fundo HSBC Aquisição, que tinha patrimônio superior a R$100 milhões há três anos, hoje tem cerca de R$6 milhões.

¿ Não tem compensado aplicar num fundo de inflação ¿ resume Carvalho.

Renato Ramos, diretor de Renda Fixa do HSBC Investment, diz que, devido às perdas seguidas, tem evitado indicar esse tipo de aplicação:

¿ Com o dólar numa cotação tão baixa (a moeda americana encerrou os negócios da última sexta-feira cotado a R$2,164) não dá para recomendar esses fundos. O investidor tem mais vantagem em deixar o dinheiro aplicado em renda fixa e é isso que temos aconselhado ¿ explica Ramos.

E os fundos de renda fixa têm sido a escolha mais óbvia dos investidores: já captaram R$235 bilhões apenas este ano ¿ dinheiro antes aplicado em fundos DI, multimercados e mesmo fundos de inflação ¿ na esteira dos elevados juros do país, com taxas reais (isto é, já descontada a inflação) de cerca de 13% ao ano, as maiores do mundo.

Cenário eleitoral pode trazer ganhos para fundos em 2006

O economista Marcelo D¿Agosto, autor do livro ¿Como escolher o melhor fundo de investimento¿, acredita que, apesar das perdas recentes, 2006 pode reservar uma recuperação para os fundos de inflação:

¿ O ápice desses fundos foi em 2002, justamente por causa do cenário eleitoral, que vai se repetir no ano que vem, com as eleições presidenciais. Normalmente, esse é um período de incertezas e volatilidade nos mercados, que se reflete numa alta do dólar e, conseqüentemente, da inflação, o que pode gerar alguma reação para os fundos de inflação. Vale lembrar que, este ano, mesmo com o dólar em queda de quase 20%, esses fundos renderam cerca de 6% ¿ ressalta D¿Agosto.

Porém, ele adverte que essa é uma aposta arriscada para investidores conservadores:

¿ O fundo aplica em papéis de longo prazo, que têm oscilações fortes que podem assustar quem é avesso a risco.