Título: Argentina deve renegociar sua dívida e esquecer o FMI, diz Paul Krugman
Autor: Janaína Figueiredo
Fonte: O Globo, 10/11/2004, Economia, p. 22

A Argentina não precisa da ajuda do Fundo Monetário Internacional (FMI) para consolidar o processo de reativação econômica iniciado em 2003. A opinião é do economista americano Paul Krugman, que ontem participou de uma teleconferência organizada pela Câmara Argentina da Construção. Para Krugman, o governo do presidente Néstor Kirchner, que há vários meses suspendeu suas negociações com o Fundo, ¿poderia até mesmo ignorar as recomendações do organismo¿ se considerar que está sendo mal assessorado.

Na visão do economista americano, a prioridade da Argentina neste momento deve ser a renegociação de sua dívida pública em mãos de credores privados.

¿ O pior já passou, pois a Argentina está mostrando um nível de recuperação impressionante ¿ afirmou Krugman, que criticou duramente a competência do FMI. ¿ Se o Fundo assessorar mal o governo argentino, tal como ocorreu em outras oportunidades, a Argentina poderia ignorar suas recomendações, porque atualmente a opinião do organismo de crédito não é necessária para a entrada de capital.

Nobel de Economia alerta para redistribuição de renda

Durante uma visita ao México, o diretor-gerente do FMI, Rodrigo Rato, afirmou que a retomada das negociações com a Argentina depende exclusivamente do governo Kirchner.

¿ Mantemos um relacionamento fluido e constante com o governo argentino e ele nos avisará o momento em que quiser reatar as conversas sobre o programa que está temporariamente suspenso ¿ disse Rato.

A estratégia do ministro da Economia, Roberto Lavagna, é fechar um acordo com os credores privados primeiro e só depois retomar a negociação com o Fundo. Na semana passada, o ministro argentino enviou a proposta do governo à Securities and Exchange Commission (SEC, órgão regulador do mercado financeiro americano) e pretende lançar a oferta aos mercados no dia 29 deste mês. No entanto, não será uma negociação fácil. Ontem, um grupo de credores argentinos abriu um processo nos tribunais de Nova York para tentar boicotar a renegociação. Os credores locais acusaram o governo Kirchner de estar favorecendo credores institucionais do país, como os fundos de pensão e os bancos.

O norueguês Fynn Kydland, Prêmio Nobel da Economia de 2004, também se referiu à situação da Argentina ontem. Durante um seminário na Bolsa de Valores de Buenos Aires, o economista disse que o país ¿deve se esforçar para recuperar a confiança dos investidores internacionais e melhorar a distribuição da renda para reduzir a pobreza¿.

Para o economista norueguês, ¿a Argentina tem potencial para ocupar o lugar que merece entre as nações do mundo desenvolvido¿. No entanto, Kydland fez um alerta:

¿ Se a economia crescer apenas entre 2% e 3%, não será suficiente para beneficiar os setores mais pobres da população, porque não permitirá a distribuição da riqueza.