Título: Estudo desvenda segredo de empresas centenárias
Autor: Maria Fernanda Delmas
Fonte: O Globo, 10/11/2004, Economia, p. 25

A sueca Stora Company tem pelo menos 700 anos de vida. A japonesa Sumitomo existe há 400 anos, a americana DuPont, há 200, e a alemã Siemens, há 150 anos. Por outro lado, dezenas de milhares de empresas que existiam na segunda metade do século XIX já morreram. O consultor Arie de Geus integrou um grupo de pesquisa na época em que era executivo da Shell. Há cerca de duas décadas, o grupo identificou apenas 27 empresas centenárias no mundo. Dez anos atrás, um estudo de professores da Universidade de Stanford, um centro de excelência, encontrou resultados semelhantes. E qual é o segredo de tanta longevidade?

Segundo Geus, todas essas empresas tinham quatro características em comum. A primeira era o conservadorismo na gestão financeira.

¿ Essas empresas queriam ter dinheiro no bolso. Elas não tinham de ir a Wall Street convencer um banqueiro cínico a lhes dar US$ 100 milhões ou US$ 200 milhões ¿ afirma Geus.

Empregados se identificam com valores das empresas

Todas as empresas longevas também eram sensíveis ao mundo que as cercava. Não pensavam apenas no próprio umbigo. A família da DuPont, exemplificou Geus, produziu até senadores.

O consultor destaca o sentido de coesão e identidade dos funcionários dessas empresas com seus empregadores. Havia valores básicos nas corporações com os quais os líderes e demais funcionários se identificavam. Como quarto e último ponto, a administração dessas empresas centenárias também era tolerante, ou seja, sem decisões centralizadas sobre entrar ou não em um novo mercado.

¿ Elas tinham espaço para experimentar ¿ diz Geus.

O consultor lembrou que, na década de 70, quando o Brasil investia pesadamente em infra-estrutura, a Shell se associou à empresa de transportes Itapemirim para erguer postos e hotéis à beira das novas estradas do país. As duas juntas chegaram a ser as principais donas de quartos de hotéis no país. Até que a matriz da petrolífera em Londres reclamou da experimentação.

Lucro foi maior no período entre 1920 e 1980

Segundo o estudo do grupo da Shell, as empresas criadas no pós-guerra tinham expectativa média de vida inferior a 20 anos. De início, o grupo imaginou que o problema de mortalidade afetaria sobretudo as empresas pequenas e familiares. Então, pegou a lista das 500 maiores empresas publicada pela revista ¿Forbes¿ desde o início do século XX e viu que a expectativa média não ultrapassava os 40 anos.

Em Stanford, os pesquisadores observaram ainda a questão do lucro nas empresas e descobriram que as que estavam vivas no período de 1920 a 1980 tinham sido 15 vezes mais lucrativas que a média das empresas americanas de hoje.