Título: Lula afirma que Brasil poderá ser vítima do seu próprio crescimento
Autor: Geralda Doca e Regina Alvarez
Fonte: O Globo, 10/11/2004, Economia, p. 27

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem que o Brasil pode ser vítima do seu crescimento por causa dos gargalos do setor de infra-estrutura. Ao discursar de improviso para vários empresários do setor da construção civil numa solenidade de aniversário de 60 anos da Grupo Odebrecht, na Confederação Nacional da Indústria (CNI), Lula afirmou que se a indústria e o agronegócio continuarem crescendo e se as exportações se mantiverem no atual ritmo, o Brasil corre o risco de não conseguir escoar a produção. Segundo ele, isso já está acontecendo diante das deficiências dos portos brasileiros, das ferrovias e das estradas brasileiras:

¿ Vamos ter que fazer aquilo que tiver de ser feito porque o Brasil pode ser vítima do seu crescimento, veja que absurdo. Antes, nós éramos vítimas da falta de crescimento.

Proposta agrada à oposição, que pretende limitar fundos

Lula disse que o Estado não dispõe de recursos para fazer os investimentos necessários e, por isso, precisa fazer parcerias com a iniciativa privada. Ele fez um apelo aos empresários presentes no evento para que conversem com os senadores e agilizem a aprovação do projeto que cria a Parcerias Público Privadas (PPPs):

¿ Esperamos que vocês conversem com os senadores para que nós aprovemos logo o projeto de PPP, para facilitar essas parcerias.

Para apressar a tramitação do projeto, o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), apresentou ontem à Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) uma proposta estabelecendo um limite mínimo de participação do capital privado nas PPPs ¿ provavelmente 30%. O objetivo é evitar que um empreendimento seja financiado integralmente com recursos públicos ¿ de fundos de pensão estatais e do BNDES, por exemplo. A proposta recebeu apoio do secretário do Tesouro, Joaquim Levy, e foi elogiada pela oposição, que quer limitar a participação dos fundos.

Para o senador tucano Tasso Jereissati (CE), a exigência de 30% do capital privado nas PPPs resolve o impasse em relação aos fundos estatais.