Título: Pesar e revolta nos territórios
Autor: Deborah Berlinck
Fonte: O Globo, 10/11/2004, O Mundo, p. 30

A confirmação do agravamento do estado de saúde de Yasser Arafat foi recebida com pesar e revolta nos territórios palestinos. Nas maiores cidades da Cisjordânia, muitos optaram por atacar Suha Arafat, mulher do líder palestino, que acusam de omissão, egoísmo e desrespeito. Em Ramallah, além da movimentação de repórteres ao redor da Muqata (o quartel-general de Arafat em Ramallah), poucos moradores eram vistos nas ruas do centro da cidade.

¿ As pessoas decidiram ficar em casa e acompanhar pela televisão. Todos estão cansados com a falta de informações. Suha fugiu daqui há quatro anos, com o início da intifada. Preferiu viver no conforto de Paris e ignorar a pobreza, os conflitos e as mortes do povo palestino. Agora ela quer direitos sobre a vida e a morte de nosso presidente. Nós é que temos o direito de saber o que ele tem. Espero que ela não venha ao enterro e que o povo não a deixe chegar até aqui. Aqui ela não tem o direito de pisar ¿ declarou Mohamad Ibrahim, de 21 anos, morador de Ramallah.

Palestinos teriam perdido a esperança de rever seu líder

Na Faixa de Gaza o clima era de tristeza. As declarações do ministro do Exterior, Nabil Shaath, em Paris, foram as primeiras a serem recebidas de forma oficial desde que Arafat foi internado há dez dias. Diversos grupos de jovens circulam pelas ruas vestindo camisetas negras e carregando fotos do líder palestino. Segundo o correspondente do Canal 2 israelense na Cidade de Gaza, Suliman Assafi, os palestinos já perderam a esperança de rever Arafat, mas ainda não sabem como lidar com a perda não só do presidente, mas do mito.

¿ Em todas as esquinas, há uma televisão sintonizada nas notícias e no rádio ouvem-se orações e músicas melancólicas. Gaza está aguardando o pior. As pessoas perambulam sem saber bem para onde ir. Depois de uma semana de incerteza, todos sentem uma identificação muito grande com Arafat. Nunca vi tantos jovens usando kafiahs ¿ disse Assafi, por telefone, ao GLOBO, referindo-se ao pano árabe preto e branco usado por Arafat.