Título: Daniel: preso recua e diz que crime foi comum
Autor:
Fonte: O Globo, 15/11/2005, O País, p. 10

Jonny afirmara à Justiça que o empresário Sombra havia pago R$1 milhão ao grupo que matou o prefeito

SÃO PAULO. Em depoimento à CPI dos Bingos ontem em São Paulo, Elcid Oliveira Brito, o Jonny, um dos sete presos pela polícia de São Paulo como integrante da quadrilha que seqüestrou e matou o prefeito de Santo André, Celso Daniel, em janeiro de 2002, voltou atrás no depoimento que dera à Justiça dizendo que o crime tinha envolvimento político. Em junho, Jonny dissera ao juiz Luiz Fernando Miglioni, de Itapecerica da Serra, onde o prefeito foi encontrado morto, que o empresário Sergio Gomes da Silva, o Sombra, havia pago R$1 milhão ao grupo que seqüestrou e assassinou Daniel.

Inicialmente, Jonny dissera que Daniel fora torturado antes de morrer para entregar documentos sobre a máfia que cobrava propinas na prefeitura petista de Santo André. No depoimento ao senador Eduardo Suplicy (PT-SP), Jonny recuou: disse que o crime não foi planejado e que a vítima foi escolhida aleatoriamente.

Jonny participou do seqüestro do prefeito, tirando-o do carro conduzido por Sombra. Ele era o único dos sete presos acusados de matar o prefeito que mantinha no Ministério Público Estadual a tese de crime político na morte de Daniel. Os demais acusados diziam que o crime era comum e que Daniel fora seqüestrado por acaso após uma perseguição pelas ruas de São Paulo. Jonny chegou a dizer à delegada Elizabeth Sato, responsável pela reabertura do inquérito, que Sombra patrocinara toda a operação que levou à morte do prefeito.

Promotor se disse perplexo com mudança de versão

O promotor de Santo André, Amaro Thomé Filho, que investiga o caso e acompanhava o depoimento de Jonny, disse ter ficado perplexo com o recuo do bandido ouvido por Suplicy, o único representante da CPI dos Bingos que participou da sessão em São Paulo.

- Para mim, o que vale é o depoimento à Justiça, quando Jonny disse que o caso tinha conotações políticas - disse a advogada de Jonny, Grace Leni Gomes.

A CPI dos Bingos ouviu ainda o depoimento Ivan Rodrigues da Silva, o Monstro, considerado o chefe da quadrilha. Durante três horas, ele sustentou sua versão de que o assassinato foi um crime comum.

A comissão fez também uma acareação entre o preso José Edson da Silva, que negou participação no seqüestro, e o dono do sítio que serviu de cativeiro para Daniel. Esse sítio teria sido alugado por José Edson um mês antes do seqüestro do prefeito. José Edson disse ter sido torturado pela polícia para assinar o termo de confissão de participação no crime.

Legenda da foto: SUPLICY (à direita) ouve o depoimento de Ivan Rodrigues, o Monstro