Título: LUCROS DOS BANCOS NO GOVERNO LULA CRESCERAM 11,34%, PARA R$23,56 BI
Autor: Aguinaldo Novo
Fonte: O Globo, 15/11/2005, Economia, p. 24

Juros elevados fizeram resultados subirem em relação à gestão de FH

SÃO PAULO. Os bancos ampliaram seus ganhos no governo Luiz Inácio Lula da Silva. De janeiro de 2003 a junho deste ano, as dez maiores instituições privadas do país acumularam lucro de R$23,561 bilhões. Isso representa aumento de 11,34%, ou de R$2,399 bilhões, em relação aos 30 primeiros meses do segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso (janeiro de 1999 a junho de 2001). Na primeira gestão tucana, de 1995 a 1998, esses bancos lucraram R$16,217 bilhões.

O lucro médio semestral da amostra desde o início do governo Lula é de R$4,712 bilhões, contra R$1,749 bilhão na primeira metade do primeiro mandato de Fernando Henrique (janeiro de 1995 a junho de 1997) e R$4,232 bilhões no mesmo período da gestão seguinte. Os dados foram compilados pelo economista Alberto Borges Matias, da USP, e consideram os dez maiores bancos privados nacionais e estrangeiros. Juntos, eles respondem por 63,5% dos ativos desse segmento. Para possibilitar a comparação, os dados foram atualizados pelo IPCA.

Esse crescimento do lucro foi ajudado pela manutenção de juros e spreads (diferença entre o custo de captação do banco e o cobrado dos clientes nos empréstimos) elevados no governo Lula. O economista-chefe da consultoria GRC Visão, Jason Vieira, avaliou a trajetória da Selic, referência para as demais taxas de juros, desde janeiro de 1995. A taxa média no governo Fernando Henrique foi de 34% anuais no primeiro mandato e de 20% no segundo. No governo Lula, a média é de 19,6% ao ano.

Empréstimo a pessoa física contribuiu para lucros

Vieira também calculou a chamada média ponderada da Selic, que exclui os picos da série histórica. Fernando Henrique passou por três crises internacionais: México, Rússia e Ásia. Nesse caso, os 19,6% ao ano do governo Lula se comparam a 28% no primeiro mandato tucano e a 18,82% de janeiro de 1999 a dezembro de 2002.

Também pesa a maior solidez hoje dos bancos, que ficaram maiores e mais eficientes após o fim do floating (o que o setor ganhava aplicando o dinheiro "esquecido" pelo cliente na conta). Só o Bradesco comprou ou incorporou cerca de 20 instituições desde 1995. Isso se reflete no patrimônio líquido dos bancos, que saltou 177,7% a preços correntes na última década.

- Os bancos ficaram maiores e ganharam eficiência. Bancos maiores, lucros maiores - afirma o economista-chefe da Febraban, Roberto Luis Troster.

Além disso, os bancos se concentraram no segmento de varejo, que teve forte expansão, apesar dos altos spreads. Para pessoas físicas, o spread oscila entre 42% e 43% ao ano, contra 8% para grandes empresas e 15% para pequenas e médias.

- Juros elevados geram transferência de renda do setor não-financeiro para os bancos - diz Matias, da USP.

Segundo seu estudo, a receita com crédito no governo Lula soma R$95,607 bilhões, 22,4% a mais que nos primeiros dois anos e meio do segundo mandato de Fernando Henrique. O resultado com a aplicação em títulos públicos e derivativos passou de R$61,77 para R$84,811 bilhões com Lula.

Funcionário de carreira do BNDES e hoje trabalhando na assessoria econômica do PSDB, o economista José Roberto Afonso também comparou o lucro dos bancos. Sua conta considerou os balanços de mais de 50 instituições, públicas e privadas, publicados no site do Banco Central. Atualizado pelo IPCA, o estudo mostra um ganho de R$79,6 bilhões desde o início do governo Lula, frente a R$59,9 bilhões de junho de 2000 a dezembro de 2002.

- Nessa comparação singela, os bancos lucraram no governo Lula cerca de R$19,7 bilhões a mais do que ganharam no fim do governo Fernando Henrique - diz Afonso.

inclui quadro: o desempenho das instituições