Título: COMANDANTE DE BATALHÃO DE CURITIBA É EXONERADO
Autor: Evandro Éboli/Fabio Buchmann
Fonte: O Globo, 15/11/2005, O País, p. 11

Exército abre inquérito e afasta 13 militares acusados de torturar terceiros-sargentos do 20º Batalhão de Infantaria

BRASÍLIA e CURITIBA. O comando do Exército determinou ontem o afastamento do comandante do 20º Batalhão da Infantaria Blindado de Curitiba, Ernani Lunardi Filho, com a revelação das imagens da tortura a que foram submetidos, durante um violento trote, terceiros-sargentos recém-promovidos. As imagens foram exibidas na noite de anteontem pelo "Fantástico", da Rede Globo. As vítimas dos maus-tratos pertencem à 2ª Companhia de Fuzileiros, conhecida como Pantera. As imagens mostram que os novatos, chamados de lobinhos, receberam choques elétricos e chineladas nas plantas dos pés. Tiveram a pele queimada com um ferro de passar e foram submetidos a afogamento.

O Exército abriu inquérito policial militar (IPM) e afastou 13 militares acusados de comandar a sessão de torturas enquanto durarem as investigações. Todos foram transferidos para o 5º Batalhão Logístico, de onde só vão poder sair à noite para dormir em casa. Antes de receber a notícia de seu afastamento, o tenente-coronel Ernani Lunardi Filho se disse indignado com as imagens da tortura.

- A prática de tortura nos trotes é inaceitável. O trote era aplicado sem o conhecimento dos oficiais. Proibimos e coibimos qualquer prática desta natureza. Este fato não ocorreu na instrução militar, foi fora do expediente, quando o quartel estava vazio. É inaceitável e revoltante. O comando do Exército e os oficiais condenaram a prática - disse Lunardi Filho.

O resultado do IPM deve sair em 40 dias. Três sargentos recém-formados aparecem nos vídeos sendo torturados: Edvaldo Rodrigues da Silva, Giovani Moscatelli e Marcelo Sales Correa.

OAB: famílias de sargentos têm direito a indenização

Quatro dos agressores foram identificados por meio das imagens: Maurício Schiavon Ramos, Rafael Rosseti, Deyvison Chelis e Sérgio Ferraz. Eles podem pegar até dois anos de prisão e serem expulsos do Exército. Os nomes dos outros envolvidos estão sendo mantidos em sigilo pelo Exército em Curitiba. Em uma entrevista a uma emissora de TV do Paraná alguns acusados afirmaram que tudo foi brincadeira e que no mesmo dia, todos, inclusive os recém-formados, participaram de um churrasco de confraternização.

Para a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), as famílias dos sargentos que sofreram as agressões devem entrar com uma ação cível contra a União, pois eles têm direito a uma indenização por danos morais.

Alencar: "Trote foi de mau gosto, exagerado, inaceitável"

A determinação da exoneração do comandante do batalhão onde ocorreram as torturas saiu por meio de uma nota do Ministério da Defesa, assinada pelo ministro José Alencar, vice-presidente da República. Alencar condenou o trote:

- Foi aberto um inquérito policial militar para apurar os fatos e punir os responsáveis. Há vários tipos de trote, esse foi um trote de mau gosto, um trote exagerado, inaceitável.

O Ministério Público Militar e a Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados vão requisitar cópias das imagens à TV Globo para investigar o ocorrido.

Legenda da foto: UM DOS SARGENTOS é submetido a tortura no batalhão de Curitiba