Título: Rede de proteção para Palocci
Autor: Cristiane Jungblut/Isabel Braga/Gerson Camarotti
Fonte: O Globo, 15/11/2005, O País, p. 3

De olho em sua própria estabilidade, Lula trabalha para garantir permanência do ministro

Embora tenha analisado no fim de semana alternativas para a possibilidade de o ministro Antonio Palocci deixar o governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está agindo pessoalmente para assegurar sua permanência no Ministério da Fazenda. Lula decidiu jogar todas as fichas no depoimento do ministro à Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, dia 22. Após falar ao telefone com Palocci ontem, Lula ficou convencido de que o ministro irá rebater todas as acusações e esclarecer todos os fatos que surgiram contra ele nas últimas semanas.

Lula se reuniu ontem com o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e passou o dia em encontros fechados com assessores e ministros analisando a crise envolvendo Palocci. Assessores diretos afirmaram que o presidente está "sendo convencido" de que a situação precisa ter um limite. Ou seja: se aparecer uma denúncia mais grave envolvendo Palocci, Lula pode rever sua posição. A avaliação no Planalto é que a situação está cada vez mais difícil e que o limite é o não-comprometimento da economia, já que, por enquanto, o mercado não está sendo afetado pela instabilidade política.

Ao longo desta semana, Lula deverá fazer uma defesa pública da economia e também do ministro em discursos e numa entrevista coletiva que dará a emissoras de rádio regionais na sexta-feira. Lula participará de solenidades amanhã e quinta-feira, quando deve abordar a questão da economia. A coletiva é uma alternativa para Lula não fazer um pronunciamento oficial, o que daria mais peso à crise.

Lula aposta no desempenho de Palocci para mudar a situação e no fato de alguns oposicionistas, como o líder do PFL no Senado, José Agripino Maia (RN), terem declarado que o ministro não é o foco. Mas há assessores e ministros que não sabem se Palocci agüentará o tiroteio até o dia 22.

Encontro decisivo de Lula e Palocci será amanhã

Amanhã, quando retornar de uma folga, Palocci deverá ter um encontro decisivo com Lula. Assessores do governo foram unânimes em afirmar que só um desempenho sofrível no Senado ou o surgimento de novos fatos graves tirariam Palocci do governo. O próprio ministro passou os últimos três dias trabalhando nos bastidores em busca de apoio.

A queda-de-braço com a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, sobre a condução da política econômica, serviu como termômetro de sua força no governo. Palocci recebeu a solidariedade interna e estaria querendo demonstrações públicas de apoio, inclusive de Lula. O presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), foi um dos que saiu em defesa do ministro.

- O ministro tem conduzido a economia com os êxitos que todos conhecem e com as deficiências que também são conhecidas. A ambição dos partidos não pode ficar acima dos interesses nacionais. Os interesses do Brasil, do povo, devem estar acima das ambições partidárias, por mais legítimas que sejam. O país é uma democracia, a disputa é legítima, mas a ambição dos partidos não pode superar isso - disse Aldo.

No núcleo do governo a avaliação é de que uma eventual saída do ministro deixaria exposto o presidente. Com a queda do ex-chefe da Casa Civil José Dirceu, Palocci funcionaria como uma espécie de última barreira de proteção em torno de Lula. O próprio presidente passou a mandar recados para a oposição de que é preciso um limite para a crise. Caso contrário, o PT poderá sangrar ainda mais. Lula chegou a usar a expressão hemorragia. Mas em compensação, o presidente advertiu que o PSDB também iria sangrar.

- Não adianta o Planalto ameaçar a oposição. O que não pode é Palocci permanecer no cargo com todas essas suspeitas - reagiu o senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT).

Já o líder da minoria na Câmara, José Carlos Aleluia (PFL-BA), afirmou ontem que há um movimento de desestabilização de Palocci que partiria da base do governo e não da oposição. Segundo ele, um grupo de petistas, tendo à frente Dilma Rousseff, aproveita a crise para desestabilizar a área econômica e dar um tom populista ao governo, para facilitar a reeleição.

- Está claro nas críticas da chefe da Casa Civil, que segmentos do governo petista querem implantar o populismo, numa tentativa desesperada de devolver a Lula alguma chance nas eleições do próximo ano - diz Aleluia.

COLABOROU: Isabel Braga

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Legenda da foto: LULA E PALOCCI: O presidente aposta que o ministro da Fazenda conseguirá rebater as acusações no depoimento à Comissão de Assuntos Econômicos do Senado