Título: SEGURANÇA EM SEGUNDO LUGAR
Autor: Natanael Damasceno
Fonte: O Globo, 16/11/2005, Economia, p. 22

Teste em microondas reprova modelos com grill, que aquecem demais e podem causar queimaduras

Grelhar, gratinar ou assar alimentos em fornos de microondas pode representar um grave risco para quem manuseia o aparelho. Um teste realizado pela Pro Teste Associação Brasileira de Defesa do Consumidor mostrou que os fornos equipados com grill, geralmente mais caros que os modelos comuns, aqueciam demais pelo lado de fora, podendo provocar queimaduras no consumidor.

Foram analisados sete microondas de 27 a 30 litros, de quatro marcas diferentes: Brastemp, Panasonic, Electrolux e CCE. Todos os três que tinham a função grill, que utiliza uma resistência elétrica interna para fazer com que os aparelhos funcionem como um forno comum, foram reprovados.

Temperatura do lado de fora chegou ao dobro do permitido

Segundo a engenheira Alessandra de Macedo, que coordenou os testes, todos os aparelhos com grill deveriam ter um acabamento térmico para impedir que o calor se propagasse para fora do aparelho:

¿ Esses aparelhos consomem mais energia e não têm a proteção adequada. Há uma norma técnica da Associação Brasileira de Normas Técnicas que determina que, para diferentes superfícies, a temperatura de contato deve ser de até 70 graus Celsius. Em um dos fornos chegamos a medir 137 graus Celsius na parte superior da porta, com risco de causar queimadura grave.

Um outro problema, a emissão de microondas, também foi motivo de reprovação. No modelo da marca CCE, sem grill, a trava de segurança não funcionou a contento e permitiu que o forno entrasse em funcionamento com a porta aberta.

¿ As microondas são um tipo de radiação, muito perigosas. Além de queimaduras graves, podem gerar problemas como o câncer. Por isso a importância da trava, que levou à reprovação desse modelo ¿ explicou Alessandra.

Consultados sobre o teste, todos os fabricantes criticaram a não divulgação dos critérios adotados.

A Electrolux afirmou que, como a metodologia e as normas aplicadas na análise não foram divulgadas, não seria possível argumentar sobre a reprovação. Além disso, a empresa disse que as suas avaliações internas de desempenho garantem a segurança dos consumidores.

Segundo a Panasonic, a temperatura alcançada no teste está muito acima do que pode acontecer em condições normais. Por conta disso, diz, seria necessário saber mais sobre os procedimentos da análise.

O fabricante dos fornos Brastemp, além de dizer que desconhece a metodologia da análise, argumentou que a Pro Teste não é responsável pela regulamentação ou certificação dos microondas. Afirmou ainda que seus produtos são projetados atendendo às normas internacionais de segurança e performance.

Já a CCE disse que há informações equivocadas sobre o seu modelo, nos resultados do teste. Isto seria um indício de que o forno analisado não pode não ser o mesmo que foi anunciado pela Pro Teste.

Volume interno anunciado também é alvo de críticas

O teste detectou outros problemas, como a diferença entre o volume anunciado e o volume útil dos aparelhos e o nível de ruído emitido pelos microondas ¿ considerado alto. Mas, de forma geral, concluiu que os modelos que não foram reprovados por motivos de segurança são eficientes e fáceis de usar.

¿ Alguns problemas poderiam ser facilmente sanados. Todos os fabricantes, por exemplo, anunciam o volume bruto (altura x largura x profundidade), mas não explicam que há uma diferença entre esta medida e o volume útil, que é o espaço total subtraído do espaço mínimo, para que os pratos não encostem nas paredes do forno. Para resolver este problema, basta declarar os dois valores ao consumidor ¿ afirmou a engenheira.