Título: HAITI: ONGS PEDEM INVESTIGAÇÃO DE MISSÃO DE PAZ
Autor: Jose Meirelles Passos
Fonte: O Globo, 16/11/2005, O Mundo, p. 25

Grupos americanos dizem que soldados da ONU sob comando do Brasil cometeram violações e solicitam indenização

WASHINGTON. Sete grupos de defesa dos direitos humanos que compõem a Haitian Action Network (Rede de Ação Haitiana) denunciaram ontem o Brasil e os EUA como cúmplices ¿ e, em certos casos, participantes ativos ¿ de uma campanha de terror no Haiti contra partidários do ex-presidente Jean-Bertrand Aristide. Duas petições, solicitando compensações financeiras e uma condenação moral dos governos dos países ¿pela onda de recentes massacres e violações dos direitos humanos¿ no Haiti, foram entregues à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), da Organização dos Estados Americanos (OEA).

Caso a comissão considere que as denúncias têm substância, poderá pedir explicações dos governos e levar o caso à Corte Interamericana de Direitos Humanos da OEA.

Ao anunciar, na véspera, que denunciaria Brasil e EUA, os acusadores disseram que dois renomados intelectuais ¿ o historiador Howard Zinn e o lingüista Noam Chomsky ¿ haviam assinado a petição. Ontem, porém, uma nota do grupo dizia apenas que ambos apoiavam a iniciativa. Perguntado por que seus nomes não constavam entre os peticionários, como anunciado, Donnelly argumentou:

¿ Foi uma questão de tempo. Eles ainda não tiveram a oportunidade de ler as petições. Mas tenho certeza de que quando fizerem isso eles as endossarão.

Documentos acusam polícia haitiana de atrocidades

Os documentos relacionam várias atrocidades cometidas pela Polícia Nacional do Haiti e que teriam contado com a participação das forças de paz da ONU, comandadas pelo Brasil. Há menção a massacres que teriam resultado na morte de mais de cem pessoas. Segundo o grupo, algumas pessoas teriam sido mortas por brasileiros. E isso teria acontecido não em trocas de tiros, mas em assassinatos:

¿ No último dia 29 de junho, numa operação em Bel Air, tropas brasileiras mataram William St. Mercy, um inválido que estava sentado em sua cadeira de rodas, desarmado. Atiraram na cabeça dele ¿ afirmou Seth Donnelly, diretor da ONG U.S. Labor-Human Rights Delegation to Haiti, que encabeçou a equipe que entregou as petições.

Donnelly disse que entregaria vídeos que provariam a participação de tropas brasileiras em ações de esquadrões da morte. Um deles seria o registro do assassinato do inválido. Mas quando perguntado se o filme mostrava o ataque, ele recuou:

¿ Não. O vídeo mostra o inválido morto com tiros na cabeça. Mas ele foi filmado segundos depois de ter sido assassinado.

Kasey Corbit, da National Lawyers Guild, disse que o grupo também estava fornecendo depoimentos de pessoas que teriam testemunhado os crimes e vídeos que serviriam de prova. Os EUA são acusados de financiar e armar a polícia haitiana:

¿ O papel das forças de paz da ONU é proteger os civis. Mas em vez disso, as tropas lideradas pelo Brasil estão participando de campanhas de terror ou fazendo vista grossa às atrocidades cometidas pela polícia haitiana.

Ontem, o comando da missão de paz divulgou que quatro homens foram mortos por soldados brasileiros numa operação em Cité Militaire, em Porto Príncipe. Eles teriam atirado em tropas que patrulhavam o local.