Título: LADRÕES FORÇAM MULHER DE LADRÃO A ENTREGAR DINHEIRO
Autor: Isabela Martin
Fonte: O Globo, 22/11/2005, O País, p. 13

Delegado diz que bando que roubou R$164,7 milhões do Banco Central em Fortaleza está em guerra

FORTALEZA. Marli Rodrigues Cunha, mulher do ex-vigilante Deusimar Neves Queiroz, que está preso na Polícia Federal por envolvimento no assalto ao Banco Central em Fortaleza, foi seqüestrada sexta-feira e obrigada a levar os bandidos até um terreno baldio, ao lado da casa de uma ex-cunhada, em Irauçuba, a 140 quilômetros de Fortaleza, onde estavam escondidos pelo menos R$500 mil. O dinheiro estava enterrado dentro de oito canos de PVC no terreno.

Deusimar foi quem repassou à quadrilha informações sobre o sistema de segurança do banco. Ele trabalhou para uma empresa de segurança privada que prestava serviços ao BC. Para a Polícia Federal, os integrantes da quadrilha estão em guerra, e a mulher do ex-vigilante tem informações que podem ajudar a descobrir onde estão os assaltantes e recuperar os R$164 milhões roubados em agosto.

Marli foi libertada depois que dinheiro foi levado

Marli, que foi seqüestrada com os dois filhos, foi libertada logo depois que o dinheiro foi levado. Ela negou à polícia que soubesse da existência do dinheiro e alegou que os supostos seqüestradores é que tinham a informação. Mas a versão é negada por outras testemunhas, que contaram que ela pediu a um sobrinho para levá-los ao local.

Ao ser preso, denunciado por uma cunhada, Deusimar mentiu ao contar que recebera apenas R$240 mil. Com o dinheiro, havia comprado uma casa, uma moto e vinha emprestando o que sobrara a juros. A Polícia Civil diz que os seqüestradores eram pessoas conhecidas do ex-vigilante, inclusive um sobrinho dele.

¿ É ladrão roubando ladrão ¿ disse o delegado Francisco Crisóstomo.

Para o diretor do Departamento de Inteligência Policial, Luiz Carlos Dantas, os seqüestradores sabiam da existência do dinheiro porque tiveram informações privilegiadas. Para ele, essa quadrilha não é a mesma que roubou o BC.

¿ O marido dela pode ter comentado com alguém, até mesmo lá dentro do xadrez da Polícia Federal ¿ afirmou.

A PF vai investigar até o possível envolvimento de Marli no assalto. Segundo ela, os seqüestradores identificaram-se como policiais. Os filhos, um adolescente de 14 anos e uma menina de 6, foram levados por dois homens armados para um matagal e só foram libertados depois que o bando retornou de Irauçuba com o dinheiro. Marli foi solta perto de casa.

¿ Eu sabia que eles não eram policiais, mas tive que fingir ¿ disse ela.

Para encobrir digitais, os bandidos atearam fogo nos canos de PVC. A polícia disse que não os identificou, mas tem suspeitos. O sequestro só veio à tona porque policiais teriam estranhado o movimento na casa de dona Olgarina, a ex-cunhada de Marli, e ficaram surpresos com a versão de que a Polícia Federal teria ido atrás de um dinheiro. Marli foi localizada ontem na casa de outra cunhada.