Título: MINISTRO E PLANALTO TENTAM EVITAR CONVOCAÇÃO PELA CPI DOS BINGOS
Autor: Cristiane Jungblut e Luiza Damé
Fonte: O Globo, 22/11/2005, O País, p. 3

Palocci será ouvido hoje por duas comissões da Câmara

BRASÍLIA. Dada como certa até o fim da tarde de ontem, a convocação do ministro Antonio Palocci pela CPI dos Bingos no Senado está em aberto. Emissários do governo e Palocci iniciaram ontem à noite negociações para adiar a votação do requerimento, marcada para a sessão de hoje da comissão. O próprio ministro, segundo o senador petista Tião Viana (AC), telefonou para senadores da oposição argumentando que não há necessidade de aprovar a convocação, porque ele está à disposição da CPI. A proposta do governo é que o ministro seja apenas convidado. Com receio de arcar com o ônus de provocar sobressaltos na economia, parlamentares do PFL e do PSDB já admitiam ontem à noite recuar na idéia da convocação.

¿ O ministro telefonou e nós estamos buscando o diálogo com a oposição ¿ disse Viana, ao confirmar que Palocci ligou, entre outros, para o tucano Arthur Virgílio e para o presidente da CPI, Efraim Morais (PFL). ¿ Seria um ato de elegância e respeito a uma autoridade monetária. Se todos os outros ministros vieram por convite, por que criar este constrangimento para Palocci? Ele tem de ter a presunção da inocência ¿ completou o petista.

O ministro ganhou o apoio explícito do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que o defendeu na queda de braço contra a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff.

¿ A política econômica é defensável, produziu resultados e quem acha que já deu o que tinha dar está redondamente enganado. A gastança não é a melhor saída ¿ disse Renan.

Em minoria, os governistas tentaram sensibilizar ontem o presidente da CPI, com o argumento de que o ministro voltará ao Congresso no momento em que for solicitado. À tarde, Efraim Morais avisou que manteria o acordo sacramentado entre governo e oposição na quinta-feira, quando acertou a convocação com o próprio Palocci por telefone e fixou 8 de dezembro como data limite para o depoimento. Mas, à noite, nos bastidores, senadores do PSDB e do PFL já admitiam a possibilidade de não aprovar hoje a convocação. As negociações com os petistas entrariam pela noite.

Hoje, a CPI mira sua artilharia no presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A comissão ouvirá o presidente do Sebrae, Paulo Okamotto, amigo de Lula, que dará explicações sobre o suposto pagamento do empréstimo de R$29 mil do PT ao presidente, quitado entre dezembro de 2003 e fevereiro de 2004. Como foram usadas quatro agências bancárias para o pagamento, a oposição suspeita que o dinheiro possa ter saído do caixa dois petista. As circunstâncias da operação também não estão esclarecidas: Okamotto diz que pagou mas não avisou a Lula; o presidente nega o empréstimo.

O relator da CPI disse ontem que pretende divulgar até 15 de dezembro um pré-relatório com os resultados das investigações. O documento pedirá ao Ministério Público o indiciamento de pelo menos dez envolvidos nos casos investigados pela comissão, entre eles o advogado Rogério Buratti, ex-assessor de Palocci em Ribeirão Preto, e o ex-assessor da Casa Civil Waldomiro Diniz.

Palocci depõe hoje em duas comissões da Câmara

Palocci enfrenta hoje novo fogo cerrado no Congresso. Desta vez sem a ajuda da oposição, que promete endurecer, ele depõe em duas comissões da Câmara. Palocci , os líderes da base e da oposição passaram o dia se preparando para os dois depoimentos.

Pela manhã, ele depõe na comissão de Finanças e Tributação sobre denúncia de lobby feito pelo ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares no Ministério da Fazenda, para liberar R$1,6 bilhão pagos aos bancos em 2003. À tarde, se der tempo, ele falará na Comissão Especial do Fundeb sobre repasse de recursos para o ensino fundamental e médio.

A oposição promete surpresas. Segundo o líder do PFL Rodrigo Maia (RJ), a idéia é perguntar tudo que abrange a sua gestão no governo Lula, a pré-campanha de 2002 e os lobbies feitos pela chamada República de Ribeirão Preto no Ministério da Fazenda.

¿ O que não posso é perguntar de superávit primário. Refresco não dá. Não vou levantar bola para ele cortar ¿ disse Maia.