Título: MAIS EMPRESAS NO AZUL
Autor: Mariza Louven
Fonte: O Globo, 22/11/2005, Economia, p. 23

Lucro de 204 empresas em 9 meses de 2005 já equivale a 90% do total de 2004

Não são apenas os bancos que vêm obtendo excelentes resultados financeiros este ano. Foi superior a R$60 bilhões, em nove meses, o lucro das 204 empresas com ações negociadas em bolsas de valores e que publicaram os seus balanços até o dia 14 deste mês. Este valor é cerca de 90% do total alcançado em todo o ano passado e não é fruto de um aumento de receita equivalente. Ou seja, os lucros cresceram muito mais do que o faturamento. E quando forem computados os dados do terceiro trimestre, deverão superar em 20% os de 2004, segundo projeções do presidente do Conselho Regional de Contabilidade do Rio de Janeiro (CRC-RJ), Nelson Rocha.

O setor financeiro, alavancado pelas altas taxas de juros e pelo crescimento do crédito consignado, disputa o primeiro lugar no ranking de maior crescimento da lucratividade com a mineração, impulsionada pelas exportações. Os quatro maiores bancos do país tiveram receita operacional de R$77,4 bilhões no período e acumularam um lucro líquido de R$12,8 bilhões, um aumento de 64% frente a 2004. Os acionistas também não têm do que reclamar, porque seu retorno sobre o patrimônio líquido foi 34,18% maior.

Endividamento caiu 6,9% este ano

Já a mineração conseguiu ampliar a sua lucratividade, em média, em 61,9%, quase o mesmo crescimento obtido pelos bancos. E quando forem computados os dados dos demais bancos, de menor porte, a mineração poderá ter crescido igual ou até mais que o setor financeiro, afirma Rocha. Neste segmento, está uma das empresas que se destacou entre os dez maiores lucros registrados: a Caemi, cujo resultado chegou a R$1,2 bilhão, 171,7% maior que o de 2004.

Todos os setores analisados cresceram tanto em receita quanto em lucro e ainda reduziram o endividamento, em média, em 6,9% na comparação com 2004. Mas apesar de ser o maior, em termos absolutos, o de petroquímica (inclui a Petrobras) teve o desempenho mais fraco. Com receita operacional total de R$120 bilhões de janeiro a setembro, um crescimento 18,7% superior ao do ano passado, o seu resultado líquido ficou em R$18 bilhões, 12,4% maior que o de 2004.

A Petrobras, sozinha, faturou R$76,8 bilhões, um aumento de 22,5%. Mas seu resultado líquido, embora tenha chegado a R$15,4 bilhões, cresceu só 12,9%, resultando em queda de 9,8% no retorno ao acionista (lucro sobre o patrimônio líquido).

Rocha afirma que o grupo de empresas analisado é significativo porque faturou mais de R$400 bilhões em nove meses e representa quase 25% do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de riquezas produzidas no país). O fato de a receita total ter crescido em média só 12,1%, frente a um crescimento médio de 20,7% nos lucros, segundo ele, indica aumento de produtividade, o que vem contribuindo para o bom desempenho externo.

¿ As taxas de juros e a carga tributária elevados não prejudicaram os resultados das empresas ¿ analisa Rocha. ¿ Acredito que esses resultados são um sinal de que a economia poderá crescer mais do que os 3,5% que vêm sendo esperados ¿ acrescentou.

As empresas brasileiras souberam aproveitar bem o dinamismo da economia mundial e conseguiram compensar, no mercado externo, eventuais retrações nas vendas internas. Esta é a explicação, por exemplo, para o fato de o setor de alimentação analisado ¿ incluiu basicamente frigoríficos e indústrias de café e não considera supermercados, pois o único do país de capital aberto é o Pão de Açúcar, que ainda não tinha publicado balanço ¿ ter registrado aumento de 11,6% no seu faturamento e de 28,4% nos lucros. Já os supermercados vêm apresentando fraco desempenho de vendas durante este ano.

Mas houve, no varejo, quem conseguisse resultados excepcionais de vendas. É o caso da Ambev, com receita de R$11,3 bilhões, 50,7% acima da que foi obtida nos nove primeiros meses do ano passado. Em termos de retorno do acionista, ninguém superou as Lojas Americanas, a quarta melhor neste quesito ¿ perdeu só para Altere Sec, AES Tietê e Caemi ¿ com uma variação positiva de 432,7% em relação ao mesmo período do ano passado.