Título: ALFREDO SETUBAL, VICE-PRESIDENTE DO ITAÚ
Autor: Patricia Eloy
Fonte: O Globo, 22/11/2005, Economia, p. 29

'Banco não lucra mais com crise'

NOVA YORK. "Banco não lucra mais com crise", disse Alfredo Setubal, vice-presidente do Itaú e presidente da Associação Nacional dos Bancos de Investimento, no intervalo de um seminário ontem em Nova York. Ele afirmou que a redução dos juros também favoreceria os bancos e minimizou os riscos de turbulência no mercado numa eventual mudança no comando da economia ou durante a fase de campanha eleitoral.

Como o senhor vê a crise política chegando perto do comando da economia?

ALFREDO SETUBAL: Se chegar a uma situação que gere uma troca do ministro, eu acho que o substituto será alguém alinhado com a política que o governo está seguindo. Existem vários nomes: Paulo Bernardo (ministro do Planejamento), Joaquim Levy (secretário do Tesouro), há uma série de nomes que não vão criar ruptura. Mesmo se for o Mercadante (senador Aloizio Mercadante), na hora que ele sentar na cadeira de ministro da Fazenda, olhar os números, vai perceber que idéias nem sempre são factíveis.

Acha que a mudança pode alterar o humor dos investidores estrangeiros?

SETUBAL: Pelo que percebo, não. A convicção é de que o Brasil está na reta do investment grade. A mudança pode criar uma volatilidade maior, mas não passa disso.

O aumento do superávit fiscal preocupa?

SETUBAL: O governo tinha de ter coragem de fazer um choque ainda mais liberal, diminuir tarifas, aumentar o superávit fiscal para 6%. O caminho está mais por aí do que gastar com investimentos em infra-estrutura e programas sociais, isso não leva ao crescimento da economia. Investidor aplica em energia ou estrada se as regras forem estáveis. A questão social, infelizmente, vai ter de esperar uma geração pelo menos.

A eleição presidencial no ano que vem também não preocupa?

SETUBAL: Com a eleição do PT, todos os grandes partidos já foram governo. PMDB, PFL, PSDB, coligações, todo mundo já provou à sociedade que não tem milagres. Acho que a discussão vai ser mais sobre a eficiência da economia. O Brasil quer entrar para o clube das grandes nações e fez a opção de aceitar as regras. Eu sou partidário de reduzir o tamanho do estado, para gerar confiança e investimentos. Só reduzir a taxa de juros não resolve, o Brasil não precisa mais de um superávit comercial deste tamanho, pode aumentar as importações, aumentar o fluxo de comércio.

E do ponto de vista do Itaú?.

SETUBAL: Partindo do pressuposto que o Brasil vai continuar no caminho certo para entrar para o clube, os riscos são muito mais baixos. Pode ter um pouco mais de turbulência, mas nada comparável ao que foi nos anos anteriores. Banco não lucra mais com crise, comprar ativos na baixa e vender na alta não existe mais.

O Itaú vai mudar o perfil com a queda anunciada dos juros?

SETUBAL: Ainda temos uma oportunidade muito grande de crescer na parte de crédito ao consumidor e na área de crédito imobiliário. Hoje, para o sistema financeiro, a taxa de juros é um problema: ela aumenta o risco do crédito e os ativos dos bancos hoje são muito mais em crédito do que em títulos.