Título: VAGAS NA INDÚSTRIA SOBEM 0,6%, MAS SALÁRIO CAI
Autor: Fabiana Ribeiro
Fonte: O Globo, 17/11/2005, Economia, p. 32

Diante dos números de setembro divulgados ontem pelo IBGE, especialistas descartam retomada ainda este ano

A indústria registrou, em setembro, um ligeiro aumento no nível de emprego. De 0,6%, já com ajuste sazonal. Um resultado que veio após uma queda de 0,2% no mês anterior. Apesar da pequena alta, os trabalhadores não tiveram aumento nos ganhos. Pelo contrário: houve recuo de 1,3% no valor real da folha de pagamento. Diante dos números divulgados ontem na Pesquisa Industrial Mensal de Emprego e Salário (Pimes), do IBGE, alguns especialistas descartam uma retomada do crescimento da indústria ainda em 2005. Nem com a ajuda do Natal. Segundo eles, qualquer reação do setor deve ficar para os primeiros meses do ano que vem.

Ao comparar o desempenho de setembro de 2005 com o mesmo mês de 2004, o nível de emprego industrial ficou estagnado (0%). E, no acumulado do ano, a taxa é de 1,7% - menor do que o 1,9% obtido em agosto.

- O que se percebe é uma acomodação da produção industrial. E nota-se ainda um momento de ajuste de estoque das indústrias. A produção caiu, mas o emprego, não. Há uma estabilidade - disse Isabella Nunes Pereira, coordenadora da pesquisa do IBGE.

A pesquisa mostrou que ainda não foi em setembro que a redução da taxa de juros estimulou a indústria, acrescentou Isabella. E, com isso, não houve resposta no mercado de trabalho do setor:

- Mas com as perspectivas de encomendas para o Natal e com as vendas de fim de ano, o quarto trimestre tem chances de ser melhor.

Uma opinião que não é compartilhada pelo economista Marcelo de Ávila, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Para ele, a indústria pode voltar a crescer em 2006, quando a atividade estará mais aquecida, se houver uma queda de juros cadente. E, em resposta a esse movimento, uma maior abertura de vagas:

- Esse terceiro trimestre é nada usual: os pedidos de fim de ano não ocorreram. Emprego estagnado, com variação zero: isso é preocupante. É claro que tem o Natal, mas a indústria não se mostra tão animada.

Ávila acrescenta que a indústria, em vez de contratar, aumentou um pouco o número de horas pagas. Descontados os efeitos sazonais, esse índice teve variação de 0,2% de agosto para setembro. Na média móvel trimestral, houve variação negativa, de 0,2%, entre os trimestres encerrados em agosto e em setembro. E, na comparação com setembro de 2004, queda de 0,9%.

- E ainda há uma desaceleração nos salários. Desde dezembro do ano passado, esse item mostra um arrefecimento na variação positiva, que ficou em 5,5% nos últimos 12 meses.

Segundo o economista Reinaldo Gonçalves, da UFRJ, o crescimento do nível de emprego de 0,6%, em setembro, mostra um desempenho medíocre da indústria. Um quadro que, em sua visão, não deve mudar ainda este ano, nem com o Natal:

- As pessoas estão endividadas, devido à farta oferta de crédito no mercado. A renda teve um crescimento medíocre em 2005. E a geração de emprego, da própria indústria, não é satisfatória. Diante disso, a indústria não vai ter um cenário muito positivo para o Natal - resumiu Gonçalves.

Isabella, do IBGE, pondera. No último resultado da indústria, houve crescimento na produção de bens de capital (1,1%, com ajuste sazonal).

- Esse tipo de investimento, em infra-estrutura, aumentando a capacidade produtiva, cria um cenário positivo para a retomada. E é preciso esperar o quarto trimestre, que pode trazer dados positivos.

"Esse terceiro trimestre é nada usual: os pedidos de fim de ano não ocorreram. Emprego estagnado, com variação zero: isso é preocupante"

MARCELO DE ÁVILA

Economista do Ipea

inclui quadro:desempenho do setor industrial / VALOR REAL DA FOLHA DE PAGAMENTO / setores que mais contratam / setores que mais cortaram pessoal / regiões que mais contratam / regiões que mais cortaram pessoal