Título: NA CHEGADA AO SENADO, UMA TROPA DE CHOQUE
Autor: Lydia Medeiros/Adriana Vasconcelos/Martha Beck
Fonte: O Globo, 17/11/2005, O País, p. 3

Renan: 'Estamos aqui para que o silêncio não seja o fermento da crise'

BRASÍLIA. O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, chegou ao Senado para se explicar na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) escoltado por uma tropa de choque. De um lado seus principais assessores, de outro o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que o conduziu ao plenário da comissão, abriu a sessão da CAE e assistiu à maior parte do depoimento.

- Temos a exata percepção da expectativa da sociedade. Mais do que falar ao Senado, o ministro vai falar à nação. A crise impõe respostas rápidas. Por isso estamos aqui, para que o silêncio não seja o fermento da própria crise - disse Renan ao abrir a sessão.

O presidente da CAE, senador Luiz Otávio (PMDB-PA), um aliado do governo, instalou na Mesa, além de Renan, dois ex-presidentes da Casa, José Sarney (PMDB-AP) e Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA). A oposição oscilou entre a ironia e uma agressividade contida. O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) lembrou que, para antecipar o convite ao ministro, marcado anteriormente para o dia 22, o governo se valeu de um requerimento que previa a discussão da privatização do Banco do Ceará (BEC), assinado pelos senadores Heloísa Helena (PSOL-AL) e José Jorge (PFL-PE).

- Não havia percebido a importância da privatização do BEC na economia nacional, quiçá internacional. Vou me penitenciar junto ao povo do Ceará - alfinetou Tasso.

O ministro foi defendido pelo líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP). O senador disse que Palocci deveria falar sobre economia, mas fez um apelo para que não se restringisse ao assunto.

- Fale, ministro. Responda às questões com transparência e não deixe nada sem resposta - incentivou Mercadante.

A presença de Palocci na CAE atraiu senadores e deputados de todos os partidos. A sala ficou lotada. Por volta das 18h, o ministro discorria sobre a queda da taxa de juros quando um grupo de estudantes da Universidade de Brasília entrou no plenário com narizes de palhaço e cartazes com os dizeres "O povo não é palhoci" e "Superávit primário, déficit ético".

Na presidência, estava momentaneamente o senador Rodolpho Tourinho, do PFL baiano. Coube a ele mandar que a segurança retirasse os manifestantes, que foram empurrados para fora da sala. Enquanto isso, Palocci tentou mostrar que não se abalava. Continuou a falar dos juros.

Legenda da foto: PALOCCI CHEGA para falar na CAE: tropa de senadores e assessores