Título: 'Vejo interesse político por trás da investigação'
Autor: Lydia Medeiros/Adriana Vasconcelos
Fonte: O Globo, 17/11/2005, O País, p. 8

'Não existem super-homens, não estou acima de qualquer suspeita', afirma Palocci ao se defender das denúncias

BRASÍLIA. Acuado por denúncias de corrupção que envolvem ex-assessores e por críticas de colegas do governo, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, chegou ontem à Comissão de Assuntos Econômicos do Senado (CAE) disposto a preservar o cargo e aliviar as tensões sobre o mercado. Durante quase uma hora de exposição, defendeu-se de cada uma das acusações, dizendo que não há provas contra ele e acusando o Ministério Público de São Paulo de abusos.

Diante de uma oposição que decidira não inquiri-lo sobre corrupção, Palocci ficou à vontade para falar o que quis. Em tom humilde, reconheceu que não é insubstituível:

- Não existem super-homens, não estou acima de qualquer suspeita - disse.

O ministro não poupou críticas à condução das investigações promovidas pelo Ministério Público de São Paulo, fonte inicial das denúncias do ex-assessor Rogério Buratti. Contestou a afirmação dele de que recebera uma mesada de R$50 mil de uma empresa, quando prefeito de Ribeirão Preto. Mas preferiu não crucificar o ex-colaborador:

- Uma pessoa algemada diz qualquer coisa.

O ministro negou que a campanha do presidente Lula em 2002 tivesse recebido recursos de Cuba, Angola ou das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Mas defendeu a necessidade das investigações e se ofereceu para voltar ao Congresso, caso seja convocado a depor numa CPI.

- Não posso apresentar provas sobre o que não existiu. Não me furtarei a prestar esclarecimentos em qualquer instância.

CPI: "Precisamos trabalhar com equilíbrio e serenidade, focados em questões concretas. Apoiar a investigação é avançar na democracia. Mas a forma de fazê-lo é fundamental . Pode não haver ganhos para um partido ou para outro, mas o Brasil precisa ganhar. Confio nas instituições da República e no Senado. Estarei presente onde minha presença for requerida para explicar ações presentes ou passadas. Não me furtarei, mesmo sendo adversários políticos. Adversários políticos têm de ter o Brasil em primeiro lugar".

"MENSALINHO": "Não houve mensalinho ou mensalão em Ribeirão Preto. Essa informação é falsa e não será confirmada. Sei o que fiz e o que não fiz. E isso não fiz. Não existe. O contrato de saneamento que tanto se fala foi feito pela administração anterior a minha e prorrogada pela atual. Não fiz nem modifiquei, mas pago por ele".

MINISTÉRIO PÚBLICO DE SÃO PAULO: "Quando isso acontece (divulgação do depoimento de Rogério Buratti), enxergo interesse político por trás das instituições públicas e isso devemos combater. Temos de zelar para não violar a honra das pessoas e os direitos constitucionais. Autoridades de São Paulo falam em prender ex-auxiliares meus que sequer foram ouvidos".

DEVASSA: "O delegado da região de Ribeirão requisitou todos os contratos da minha administração. A Constituição diz que isso caracteriza uma devassa, não uma investigação. Investigação deve ter foco e devassa não é critério constitucional de investigação, mas isso tem sido feito".

PROVAS: "Falam que havia provas concretas contra minha pessoa, mas secretas. Se fossem provas, deveriam ser enviadas à instância correta".

IMPRENSA: "Mais vale uma imprensa livre que sob pressão. Amo a democracia defendo a liberdade de imprensa. Não me considero uma pessoa acima de qualquer suspeita".

REPÚBLICA DE RIBEIRÃO PRETO: "Essa não é a Republica de Ribeirão Preto. São as pessoas que escolhi para restabelecer o equilíbrio fiscal que o Brasil perdeu no processo eleitoral. Em Ribeirão, tive uma equipe diferente. Tive dissabores, mas não condeno essas pessoas." (ao dizer que não existem dois "Paloccis" e negou que tenha montado uma equipe de amigos no governo)

ROGÉRIO BURATTI: "Perguntam por que não levo Buratti às barras dos tribunais, assim como os jornalistas. Vivemos um momento de apuração. Não colocarei o peso de um ministério sobre jornais e pessoas. Seria constrangê-los a não fazer as apurações que devem. Compreendo (o que Buratti faz) mas não aceito. Entendo, mas não aceito. Uma pessoa algemada, presa, pode falar qualquer coisa".

CUBA: "Não houve recursos de Cuba, de Angola ou das Farc na campanha de Lula. Afirmo isso com segurança. sei que essas coisas não ocorreram. Não digo que isso não deva ser investigado. Sobre fatos que não aconteceram não posso apresentar provas".

ANGOLA: "Recentemente, falaram que Angola recebeu dinheiro brasileiro. Tenho provas da renegociação da dívida de Angola, feita à luz do dia, e serão apresentadas".

CAIXA DOIS: "Disseram que a Prefeitura de Ribeirão trabalhava com caixa dois. Como se uma prefeitura do porte da de Ribeirão, fiscalizada por uma Câmara que tem todos os partidos e por um Ministério Público que não me parece muito amigo pudesse ter uma contabilidade paralela".

AVIÃO: "Fala-se que usei um avião particular para ir a uma feira na minha cidade. Mostrei uma declaração da FAB comprovando que não, mas não fui ouvido".

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"Não houve mensalinho ou mensalão em Ribeirão Preto. Essa informação é falsa"

"Apoiar a investigação é avançar na democracia. Mas a forma de fazê-lo é fundamental"

Legenda da foto: PALOCCI COM Sarney: "Não houve mensalinho ou mensalão"