Título: Fiesp diz não se importar se ministro sai ou fica
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Fonte: O Globo, 17/11/2005, O País, p. 9

Importante é mudar a política econômica, diz entidade. Já Lula defende as medidas na economia mas não cita Palocci

SÃO PAULO e BRASÍLIA. Os empresários paulistas aceitam com tranqüilidade uma eventual saída do petista Antonio Palocci do Ministério da Fazenda. É o que diz o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, para quem é muito mais importante mudar a política econômica do que manter o ministro no cargo.

- A saída do ministro é um problema dele e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O Brasil é um país maior do que qualquer ministro, por isso o Brasil e o empresariado não vão se assustar -- disse Skaf.

Fiesp pede redução acelerada dos juros

Ontem, antes do depoimento de Palocci à Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, Skaf divulgou nota pedindo mudança na política econômica, com a posição da Fiesp: "O Brasil é maior do que qualquer brasileiro. É possível mudar a política econômica com o mesmo ministro, assim como é possível não mudar a política econômica mesmo mudando o ministro".

"O que o Brasil precisa, neste momento, é uma mudança na política econômica, uma redução mais acelerada dos juros. Houve um desaquecimento este ano. Vamos fechar 2005 com o crescimento do PIB em torno de 3%, enquanto os países emergentes vão crescer de 7 a 8% e a Argentina, 9%", acrescenta.

Skaf também critica a desvalorização do dólar: "Estou muito mais preocupado com a política econômica, com a redução de juros, com a recuperação do câmbio que está tirando a competitividade dos nossos produtos e com um choque de gestão para redução do desperdício e dos gastos públicos".

A Fiesp também pediu a ampliação do Conselho Monetário Nacional (CMN) e criticou o crescimento econômico.

Também antes do depoimento de Palocci, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez discurso em que defendeu a política econômica, mas não citou o ministro em momento algum. Lula criticou aqueles que antecipam a discussão eleitoral e, ao fazer um apelo à sociedade por uma reflexão sobre o momento político, disse que os fundamentos da economia hoje são sólidos e que não se pode jogar fora essa oportunidade.

Ao condenar o debate eleitoral, Lula disse que a nação e seus dirigentes ficam medíocres quando se pensa o país apenas de quatro em quatro anos e não a longo prazo. O discurso pouco veemente em relação a Palocci surpreendeu integrantes do governo, já que se esperava uma defesa enfática para reafirmar o apoio ao ministro. Lula discursou na 3ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação.

- Quero dizer para vocês prestarem atenção no momento político que o Brasil está vivendo. Se não houver compreensão do que está acontecendo, poderemos permitir que o Brasil jogue fora essa oportunidade. Se analisarmos a combinação dos fatores positivos, vamos chegar à conclusão de que estamos com base sólida para deixar de ser eternamente um país emergente. Vai depender da sociedade brasileira definir corretamente o que queremos.

O presidente disse que o Brasil vive o momento mais positivo de sua História desde o governo de Juscelino Kubitschek, na década de 50 e citou como "sucessos" da sua política econômica o crescimento econômico, a geração de empregos (mais de 3 milhões em 2005), a queda da inflação, o superávit da balança comercial, o crescimento do poder de compra da massa salarial:

- Digo todo dia que não há momento na História do Brasil em que tenhamos uma combinação de fatores tão positivos nesse país. Talvez nem tanto quanto cada um de nós gostaria que tivesse.

Sem citar a oposição, ele demonstrou irritação com o que chamou de uso eleitoral das denúncias contra o governo.

- As discussões politico-eleitorais, vamos deixar para um pouco mais tarde. Sei que tem gente com muita sede de discutir isso agora. Tem gente só pensando nisso - disse Lula, irônico.

Lula diz que debate interno é normal

Além de não citar o nome de Palocci, Lula disse que é normal haver debate interno no governo. Semana passada, Lula precisou intervir para acabar com a guerra entre Dilma Rousseff (Casa Civil) e Palocci sobre o futuro da política econômica.

- Muita gente não compreende que o exercício da democracia é permitir que no debate entre as partes a gente encontre um denominador comum - disse Lula.

'Se vocês lêem dois jornais por dia, leiam quatro'

Lula pede que povo se informe para decidir o futuro no ano que vem

BRASÍLIA. Ao discursar na 3ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu, mais de uma vez, que a população se informe mais porque terá que decidir o futuro do país, numa referência às eleições de 2006:

- Quero dizer para vocês prestarem atenção no momento político que o Brasil está vivendo. Leiam com muito cuidado todos os jornais, assistam com muito cuidado a todos os programas. Porque precisamos refletir sobre o que está acontecendo no Brasil e refletir muito, porque vocês não são só cientistas, vocês são seres humanos, são seres políticos e falam com outras pessoas. Se não houver compreensão do que está acontecendo neste momento, poderemos permitir que o Brasil jogue fora essa oportunidade.

E voltou a falar da imprensa:

- Queria pedir: atenção, se vocês lêem dois jornais por dia, leiam quatro. Nem sempre terão tudo o que vocês gostariam que tivessem, ou notícias boas ou ruins, mas haverá um momento em que o povo brasileiro terá que definir. Ano eleitoral sempre é um ano muito delicado no Brasil, que sempre foi pensado de quatro em quatro anos, nunca foi pensado para 20 ou 30 anos. E o país que é pensado apenas de quatro em quatro anos fica tão medíocre quanto os dirigentes que o dirigiram.

"Sem pressão, todo governo tende a achar que é o melhor"

O presidente também disse que a sociedade tem que cobrar do governo cada vez mais.

- O Brasil precisa de cobrança. Posso até não gostar, mas jamais demonstrarei que não estou gostando. Se não houver pressão, todo governo tende a achar que é o melhor do mundo.

Na saída de Lula, um homem depois identificado como Francisco Novais gritou por ele. Lula, respondeu:

- Oi! Pois não!

Novais não pôde falar com o presidente, mas disse que estava desempregado há 15 anos, desde que fora demitido no governo Collor e quer ser reintegrado ao serviço público.

"Estamos com base sólida para deixar de ser eternamente um país emergente"

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA, Presidente

"A saída do ministro é um problema dele e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva"

PAULO SKAF, Presidente da Fiesp

Legenda da foto: LULA: Defesa sutil do ministro surpreende