Título: Reação a ataques de Dilma teve o aval de Lula
Autor: Cristiane Jungblut/Jaílton de Carvalho/Ricardo Gal
Fonte: O Globo, 17/11/2005, O País, p. 11

Presidente acompanhou depoimento e deve fazer outra manifestação pública de apoio a seu ministro da Fazenda

BRASÍLIA e SÃO PAULO. No início da noite, o sentimento no Palácio do Planalto era de alívio com o depoimento do ministro Antonio Palocci na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) no Senado. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva elogiou seu desempenho, voltou a reafirmar sua permanência no governo e deve fazer demonstração pública de apoio a Palocci nos próximos dias.

Pouco antes do depoimento, Lula conversou com Palocci por telefone e avalizou o teor de sua resposta às críticas da chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Lula deverá ser mais explícito em defesa de Palocci na cerimônia de sanção da chamada MP do Bem, marcada para segunda-feira, quando deve afirmar que a política econômica é de sua responsabilidade e que Palocci é fundamental para executá-la. Para assessores, o presidente foi claro: Palocci não deixa o cargo em hipótese alguma.

- Não podemos movimentar o governo, principalmente numa área estratégica como a Fazenda, por conta de acusações sem comprovação. Palocci fez uma defesa competente. Ele está forte no governo e com o presidente e fica na Fazenda - disse o ministro das Relações Institucionais, Jaques Wagner.

A linha principal da apresentação de Palocci foi acertada anteontem com Lula, inclusive a reação pública às críticas de Dilma. Lula deu sinal verde para Palocci afirmar que estava confortável no cargo e que cumpria a política econômica determinada pelo próprio presidente. Foi uma forma encontrada para tranqüilizar o mercado financeiro e ao mesmo tempo mandar um recado para Dilma. Lula acompanhou trechos do depoimento pela TV, elogiou a calma do titular da Fazenda e chegou a classificar o depoimento de irrepreensível.

O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, acusou parte da oposição de patrocinar denúncias contra o governo para tentar enfraquecer o presidente Lula nas próximas eleições.

- O presidente Lula sofreu um bombardeio como nunca sofreu um presidente desde Getúlio Vargas, mas mantém índices de popularidade fortes. Ele é um candidato competitivo para a reeleição se ele decidir ser candidato. Uma parte da oposição está querendo usar essa crise para fazer campanha eleitoral.

O presidente do PT, Ricardo Berzoini, disse que Palocci deu respostas cabais, capazes de satisfazer a opinião pública, mas continuará sob ataque:

- Palocci foi veemente até ao dizer que a maneira como alguns procuradores estão agindo parece ter algum interesse político. Suas respostas foram suficientes para satisfazer a opinião pública, mas a oposição já adotou a tática do acirramento e fará isso até o ano que vem.

COLABOROU Jailton de Freitas

APESAR DE PALOCCI, DÓLAR CAI 0,27% E BOLSA SOBE, na página 29

Oposição evita admitir erro na sua estratégia

Para os governistas, Palocci respondeu a todas as acusações

BRASÍLIA. A estratégia da oposição de não pressionar o ministro sobre as denúncias de irregularidades durante sua gestão em Ribeirão Preto não o impediu de dar esclarecimentos sobre o assunto na sessão de ontem da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE). Ao final, os governistas comemoraram o resultado. E a oposição guardou como trunfo a convocação de Palocci na CPI dos Bingos. Os líderes da oposição rejeitam a tese difundida pelos governistas de que eles erraram na estratégia ontem.

- Cada um tem uma visão. Do alto do nosso morro enxergamos que foi a melhor decisão. O ministro vai continuar sangrando. Com a antecipação, nos sentíamos despreparados para questioná-lo hoje sobre as denúncias - justificou o líder da Minoria no Senado, José Jorge (PFL-PE).

Logo cedo , o presidente do PFL, Jorge Bornhausen (SC), comandou uma reunião da bancada e a decisão era boicotar a sessão da CAE, desde que o PSDB também o fizesse. Os tucano rejeitaram a idéia. Mas aceitaram só fazer perguntas sobre o motivo específico da convocação: privatização do Banco do Estado do Ceará (BEC) - o que foi ironizado por Tasso Jereissati (PSDB-CE) na sessão - e taxa de juros.

"É ilusão imaginar que vinda aqui eliminaria a ida à CPI"

A primeira a dizer que a ida de Palocci ontem não evitaria uma convocação na CPI dos Bingos foi a senadora Heloisa Helena (PSOL-AL):

- Vossa Excelência pode falar aqui o que quiser, até da viagem interplanetária que o astronauta brasileiro fará, mas repito que processos investigatórios de crimes contra a administração pública têm de ser tratados nas CPIs e nas comissões de fiscalização. Este depoimento não pode servir de instrumento para que não seja convocado na CPI.

O líder tucano Arthur Virgílio (AM) afirmou:

- É ilusão imaginar que sua vinda aqui eliminaria a ida à CPI. Discutiremos hoje economia. Se for inevitável, digo sem prazer, o convocaremos para a CPI.

Para os governistas, Palocci respondeu a todas as acusações e, se não surgirem fatos novos, a oposição terá dificuldade política para justificar um novo depoimento do ministro na CPI dos Bingos.

- Palocci respondeu a cada uma das acusações e lamentavelmente a oposição não perguntou sobre elas. Na democracia o direito de defesa é fundamental, mas a oposição não enfrentou o debate - disse o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP).

O senador José Sarney (PMDB-AP) disse considerar que a oposição foi tímida no ataque a Palocci porque não quer assumir a responsabilidade perante o mercado e os agentes econômicos de ter derrubado o ministro da Fazenda.