Título: Agora governo e oposição tentam prorrogar CPI
Autor: Isabel Braga
Fonte: O Globo, 17/11/2005, O País, p. 12

Parlamentares acham brecha regimental que dá mais 24 horas para a coleta de assinaturas em favor da extensão

BRASÍLIA. Os integrantes da CPI do Mensalão encontraram ontem à noite uma brecha regimental e conseguiram mais um dia de prazo no funcionamento da comissão. Com isso, prossegue hoje a coleta de assinaturas para o requerimento que prorroga por mais 30 dias os trabalhos da comissão. Caso não se consiga as assinaturas necessárias, será lido o relatório final do relator Ibrahim Abi-Ackel (PP-MG), que rejeita a tese de que houve pagamentos mensais a parlamentares da base aliada.

O presidente da CPI, senador Amir Lando (PMDB-RO) decidiu dar mais um dia de prazo, alegando que a contagem dos 120 dias de duração da CPI deve ser feita a partir do dia subseqüente à instalação. Como a CPI foi instalada no dia 20 de julho, o prazo começa a ser contado no dia 21 de julho e não no dia 20 como havia calculado Secretaria Geral do Senado.

No final da noite de ontem, o requerimento contava com 137 assinaturas de deputados e 27 de senadores em favor da prorrogação dos trabalhos por 30 dias - ou seja, ainda resta conseguir pelo menos 34 assinaturas de deputados. Governo e oposição fecharam acordo para tentar uma prorrogação por 30 dias. Integrantes da comissão entraram pela noite buscando apoio para que a CPI não fosse encerrada ontem sem sequer ter um relatório final votado.

Durante todo o dia de ontem, parlamentares da oposição tentaram colher assinaturas para requerimentos com diversos prazos de prorrogação: além dos 30 dias, o PFL tentava apoio para 120 e 180 dias. A senadora Ana Júlia Carepa (PT-PA) tentava garantir assinaturas para uma prorrogação de apenas dez dias. A idéia foi totalmente rechaçada pela oposição:

- Isso é pizza. O governo não está aqui. Dez dias? Estão brincando conosco com dez dias. É uma vergonha. CPI chapa-branca - berrava o deputado Júlio Redecker (PSDB-RS).

- Vergonha é vocês. Não querem prorrogar para não investigar a compra de voto do Fernando Henrique. Deixe de palhaçada - reagiu Ana Júlia.

Abi-Ackel se defendeu:

- Desde ontem (anteontem, dia 15 de novembro) às 12h está pronto o relatório da CPI. Está aqui para ser lido. Estamos caminhando para um fim melancólico se não deliberarmos, e nenhuma responsabilidade caberá ao relator.

À imprensa, tentando se eximir da culpa, Abi-Ackel foi mais enfático:

- Se não der quórum hoje (ontem), nesse caso houve uma pizza, mas o relator não participou de sua confecção. Eu cumpri minha parte.

Abi-Ackel: "Quanto mais eu falo menos me entendem"

Ele não distribuiu cópias antecipadas do relatório. E adiantou que não faria a leitura ontem, já que estava em andamento um acordo para prorrogar os trabalhos. Deixou claro que seu relatório não confirmará a existência de pagamentos mensais a parlamentares (o mensalão denunciado pelo ex-deputado Roberto Jefferson), mas sim transferências de recursos ilícitos (que configuram o caixa 2).

- Não quero falar sobre esse assunto porque quanto mais eu falo menos me entendem. Eu não disse que não houve mensalão, é claro que reconheço que houve repasses indevidos decorrentes de recursos ilícitos, só que não periodicamente - disse ele, cujo filho recebeu recursos do valerioduto.

O relatório não deverá incluir nomes dos deputados que teriam sido beneficiados pelos recursos ilícitos. Segundo Abi-Ackel, isso foi feito no relatório preliminar feito em conjunto com a CPI dos Correios e que listou 19 deputados.