Título: LULA: PROFESSORES NÃO SE APRIMORAM E PRECISAM DE REFORÇO
Autor: Toni Marques
Fonte: O Globo, 17/11/2005, O País, p. 14

Presidente critica sistema de educação continuada em estados e municípios e a aposentadoria antecipada

BRASÍLIA. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou ontem os professores que não se aprimoram, afirmando que alguns precisam de reforço escolar. Lula também condenou o sistema de educação continuada adotado em estados e municípios. Esse modelo evita reprovar estudantes com baixo desempenho para tentar diminuir os índices de evasão escolar.

- Se um professor entra numa sala de aula, dá uma aula e o aluno não aprende, o aluno precisa de reforço; se dá a segunda aula e o aluno continua não aprendendo, o aluno ainda precisa ficar no reforço; mas, se der a terceira e o aluno não aprender, quem precisa de reforço é o professor - disse Lula em discurso na abertura da 3ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, em Brasília.

O presidente não só condenou a educação continuada como criticou professores por anteciparem a aposentadoria.

- No Brasil é assim: os professores têm condições péssimas de trabalho e, em vez de melhorar, diminui-se o tempo de aposentadoria; os alunos têm repetência e, em vez de melhorar, faz-se o ensino continuado porque não precisa de prova, e a gente não sabe se a criança vai bem - afirmou Lula, que em 2004 já criticara o modelo de educação continuada.

Para a presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), Juçara Dutra Vieira, Lula não falou de dois pontos fundamentais: a valorização salarial dos professores e a necessidade de o poder público assumir a formação dos profissionais.

No mesmo discurso, o presidente tropeçou nas palavras e disse que muita gente ficará "de cabeça em pé" ao saber que o desempenho de alunos que estão na universidade graças ao Prouni é melhor do que o dos demais estudantes. O Prouni concede incentivo fiscal às instituições que abram vagas para estudantes carentes. Na transcrição oficial do discurso, a expressão "cabeça em pé" foi substituída por "cabelo em pé".

Lula pede empenho para aprovar Fundeb este ano

No discurso, Lula disse que a avaliação do ensino fundamental era feita por amostragem, mas seu governo iniciou a aplicação de exames aos alunos da 4ª à 8ª séries. Os exames, para 5 milhões de crianças, começaram ontem e vão até dia 30.

Ele pediu empenho ao Congresso para aprovar o Fundeb (um fundo de incentivo ao ensino básico) ainda este ano:

- Se não aprovarmos este ano, ele só entrará em vigor em 2007 e todo mundo sabe o que significa um ano de atraso na escola para a nossa garotada.

O presidente ressaltou os investimentos do governo em ciência e tecnologia, e elogiou o desempenho dos pesquisadores brasileiros. Segundo Lula, cerca de 50 mil cientistas brasileiros respondem por 1,7% da produção acadêmica mundial, e o Brasil ocupa o 17º lugar na lista dos países que mais produzem conhecimento científico e tecnológico. Ele destacou que, em 2005, o governo destinou R$597 milhões para bolsas de formação e de pesquisa, que representaria um crescimento de 54,6% em relação a 2002, último ano do governo Fernando Henrique.

MEC propõe aumento de 9,45%

Governo vai destinar R$500 milhões para reajuste de professores universitários

BRASÍLIA. O ministro da Educação, Fernando Haddad, anunciou ontem que o governo enviará ao Congresso até sexta-feira projeto de lei que destina R$500 milhões para aumentar salário dos professores das universidades federais em 2006. Esse valor, segundo o MEC, será suficiente para conceder um reajuste médio de 9,45% acima da inflação para a categoria, em greve desde 30 de agosto.

A decisão põe fim à negociação com o Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes), que rejeitou a proposta. Segundo o sindicato, a paralisação atinge 39 instituições, com a adesão de cerca de 70% dos professores. O vice-presidente do Andes, Paulo Rizzo, disse que o movimento grevista tentará impedir que a Casa Civil envie o projeto ao Legislativo, pois entende que é mais fácil convencer o governo a mudar o texto do que alterá-lo no Congresso. A dificuldade é que, para aumentar o reajuste, os congressistas têm que indicar a fonte de recursos. Isso exige diálogo com o governo.

O projeto de lei a ser encaminhado ao Congresso prevê reajuste de 50% no valor das gratificações por titulação (doutores, mestres, especialistas) e redução das disparidades entre ativos e aposentados na gratificação de estímulo à docência, a GED.

O Andes reivindica reajuste linear de 18% sobre o salário-base e equiparação entre ativos e aposentados no caso da GED.

CRÍTICAS AO SISTEMA

BRASÍLIA. Não foi a primeira vez que o presidente criticou o sistema de progressão continuada, em que os estudantes passam automaticamente de ano. Em abril de 2004, Lula disse que considera inaceitável um aluno cursar as quatro primeiras séries do ensino fundamental e não entender o que lê.

Os críticos desse sistema afirmam que ele é adotado para mascarar os índices de repetência. Os defensores dizem que, se o aluno não aprende, a falha é da escola e que o conteúdo que não é assimilado em um ano pode sê-lo até o fim do ciclo.

O presidente já condenara os ciclos, atribuindo-os a uma iniciativa de Fernando Henrique para mascarar a repetência. Mas o sistema consta de seu programa de governo. A idéia foi implementada nas prefeituras de Belo Horizonte, quando era prefeito o hoje ministro Patrus Ananias (Desenvolvimento Social), e Porto Alegre, na gestão de Tarso Genro (ex-ministro da Educação).

Lula defendeu a realização da avaliação nacional, mas sua principal proposta para melhorar a qualidade do ensino público ainda não saiu do papel: o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb).

Legenda da foto: LULA NA ABERTURA da conferência, em Brasília: críticas a professores e elogios a pesquisadores brasileiros