Título: POLÍTICOS DESVIAM FOCO DE PRISÕES
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Fonte: O Globo, 17/11/2005, O Mundo, p. 24

Republicanos querem saber quem informou sobre detidos no exterior

WASHINGTON. Em vez de averiguar por que o governo, por meio da CIA (a agência central de inteligência), mantém prisões clandestinas em outros países, usando a tortura como parte das técnicas de interrogatório, líderes da maioria republicana no Congresso americano exigem uma investigação para saber quem revelou a existência delas ao "Washington Post".

O vazamento de tais informações está sendo considerado um grave risco à segurança dos EUA. "Essa rude revelação poderá ter conseqüências de longo alcance muito perigosas e prejudiciais, e vai colocar em risco os nossos esforços de proteger o povo americano e o nosso território contra ataques terroristas", diz um trecho de uma carta assinada pelo líder da maioria no Senado, Bill Frist, e pelo presidente da Câmara, Dennis Hastert.

Ela foi enviada às comissões de inteligência da Câmara e do Senado, exigindo que ambas iniciem uma investigação. A CIA, por sua vez, solicitou a mesma coisa ao Departamento de Justiça. Em seu pedido, a agência diz que o artigo publicado pelo jornal já está causando danos aos EUA.

- Os republicanos deveriam concentrar o seu trabalho na ilegalidade das prisões, e não na revelação - disse Kenneth Roth, diretor-executivo do Human Rights Watch.

Vazamentos prejudicam recrutamento de fontes

A deputada Nancy Pelosi, líder da minoria democrata, reagiu dizendo que qualquer investigação conjunta deveria abordar também manipulação das informações pelo governo às vésperas da guerra contra o Iraque:

- Se querem investigar abusos com informação confidencial, que investiguem todos os aspectos desse assunto - sugeriu ela.

Por outro lado, a CIA ainda não realizou uma avaliação formal dos danos causados pela revelação da identidade da espiã Valerie Plame, feita por altos funcionários da Casa Branca. Segundo especialistas, além de ter acabado com a carreira da funcionária, a sua identificação colocou em risco várias operações que ela vinha conduzindo - assim como a vida das pessoas que tinham contato com ela.

- A revelação está dificultando o recrutamento de fontes - disse Mark Lowenthal, que se aposentou da agência em março passado.

Segundo conhecidos de Plame, ela deverá deixar a CIA em breve:

- Ela poderia se tornar chefe de um posto no exterior e comandar operações de espionagem. Mas agora não lhe resta nada mais. Fazer o quê? Usar na lapela um botão que diga "Oi, eu trabalho para a CIA"? - ironizou Larry Johnson, ex-analista da agência.