Título: VÔOS DA CIA SOB SUSPEITA
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Fonte: O Globo, 17/11/2005, O Mundo, p. 24

Noruega e Espanha investigam pousos ilegais de aviões com acusados de terrorismo a bordo

Os EUA estão às voltas com uma série de denúncias de que aviões da CIA (agência de inteligência americana) com muçulmanos suspeitos de terrorismo a bordo fizeram ilegalmente escalas em países europeus quando levavam esses detentos sem ordem judicial para prisões secretas em outros países, possivelmente para torturá-los. Ontem, enquanto a imprensa espanhola afirmava que tais aviões aterrissaram não só em Palma de Maiorca - como informara terça-feira - mas também em Ibiza e Tenerife, o Ministério do Exterior da Noruega abriu uma investigação sobre a suspeita de que aviões com presos enviados à base americana em Guantánamo (Cuba) passaram por aeroportos do país.

Segundo o Ministério do Exterior norueguês, a embaixada americana negou uma informação divulgada sexta-feira no semanário "Ny Tid" de que um Gulfstream III americano, em missão da CIA, aterrissou em 20 de julho no aeroporto de Gardemoen, nos arredores de Oslo. O avião pertence à companhia americana Crystal Jet Aviation, que, segundo o "Washington Post" e o "New York Times", é uma das empresas que realizariam operações clandestinas para a CIA, entre as quais o transporte de presos para Guantánamo e prisões secretas em outros países.

A Avinor, empresa encarregada do tráfego aéreo na Noruega, disse à agência de notícias NTB que o Gulfstream III ficou 12 horas em Gardemoen e seguiu para o aeroporto de Le Bourget, em Paris, com dois passageiros não identificados a bordo.

O Ministério do Exterior também pediu à embaixada americana esclarecimentos sobre informações de que outros Gulfstream com prisioneiros enviados a Guantánamo teriam sobrevoado o espaço aéreo norueguês em várias ocasiões.

Governo italiano analisa pedido

Na Espanha, o "El Pais" disse ontem que aviões da CIA com presos muçulmanos aterrissaram pelo menos uma vez em Ibiza (Ilhas Baleares) e cinco vezes em Tenerife (Ilhas Canárias).

- Se for confirmado o trânsito por aeroportos espanhóis de pessoas detidas ilegalmente, estaremos diante de fatos gravíssimos - disse terça-feira o ministro do Interior espanhol, José Antonio Alonso, ao informar que um juiz está investigando a denúncia de que vôos da CIA fizeram pelo menos dez escalas em Palma de Maiorca (Ilhas Baleares).

Ontem, o ministro baixou o tom das declarações, pedindo prudência em torno das suspeitas e dispondo-se a dar explicações ao Congresso dos Deputados. Semana passada, a Esquerda Unida pedira ao Congresso que solicitasse a Alonso esclarecimentos sobre as escalas. Já o governo regional das Canárias reforçou ontem um pedido de explicações ao governo central - feito em maio - sobre as escalas em Tenerife, que teriam sido feitas entre março de 2004 e maio deste ano.

- Essa situação precisa ser esclarecida - disse Miguel Becerra, porta-voz do governo das Canárias.

As suspeitas de irregularidades da CIA na Europa chegam também à Itália, um forte aliado dos EUA na guerra no Iraque e na campanha contra o terrorismo. Sexta-feira passada, fontes judiciais disseram que promotores italianos encaminharam ao governo de Silvio Berlusconi um pedido à CIA para que extradite 22 agentes americanos suspeitos de terem seqüestrado o imã Abu Omar em 2003, numa rua de Milão. Acusado de terrorismo, Omar teria sido levado para o Egito, onde teria sido torturado. Já a Alemanha investiga se o avião onde ele teria sido levado fez escala em seu território. Os EUA negaram as denúncias.

No último dia 3, a União Européia e o grupo de direitos humanos Human Rights Watch disseram que estavam investigando denúncias de que a CIA mantém prisões secretas em países da antiga Cortina de Ferro para interrogar suspeitos de terrorismo. Entre esses países estariam a Polônia e a Romênia, que negaram. Já o Egito disse em maio ter recebido cerca de 70 presos enviados pelos EUA.