Título: EUA ADMITEM USO DE ARMA INCENDIÁRIA
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Fonte: O Globo, 17/11/2005, O Mundo, p. 35

Fósforo branco foi utilizado contra insurgentes mas não contra civis, diz Pentágono. Britânicos também usaram

WASHINGTON. Um dia depois de se tornar pública a descoberta de detentos com marcas de tortura sob custódia das autoridades iraquianas em Bagdá, um novo escândalo já começava ontem a se delinear no Iraque. Contrariamente ao que haviam afirmado, militares americanos admitiram ter usado fósforo branco - uma arma incendiária cujo uso é regulado pela ONU - em combates contra insurgentes, enquanto o governo britânico reconheceu o uso da mesma substância, alegando que suas tropas a utilizaram apenas para fazer cortina de fumaça.

O Departamento de Estado voltou atrás em sua negativa anterior sobre a utilização de fósforo branco no Iraque, mas reafirmou que a arma não foi utilizada contra civis, desmentindo a acusação de uma estação de TV italiana. Segundo a emissora, bombas de fósforo branco foram disparadas de modo indiscriminado durante uma ofensiva em Faluja, atingindo inclusive civis. Um ex-soldado declarou no documentário ter visto corpos de mulheres e crianças queimados.

Substância tem uso regulado mas não é proibida

A substância não é proibida e tampouco considerada arma química, mas causa queimaduras e ferimentos dolorosos em contato com a pele, pois queima enquanto houver oxigênio. Um dos protocolos da Convenção da ONU sobre Certas Armas Convencionais, de 1980 - do qual os EUA não são signatários - proíbe seu uso em ataques a civis ou a militares em áreas civis.

- O fósforo branco não é proibido nem ilegal - reiterou o tenente-coronel Barry Venable, porta-voz do Pentágono, tentando desfazer o que analistas consideraram um novo revés para a imagem dos EUA. - Ele não foi usado contra civis.

Segundo Venable, a arma é de uso padrão e é mais comumente utilizada para marcar alvos ou iluminar posições inimigas de noite. No entanto, o Pentágono foi obrigado a reconhecer seu erro ao negar que o fósforo tivesse tido outro uso além desse na guerra no Iraque. Uma revista do próprio Exército dos EUA publicou um artigo de três militares no início do ano em que eles falavam do uso do fósforo como arma no Iraque

Equipe de direitos humanos vai a Faluja investigar

Dessa forma, o Pentágono não teve como sustentar a negativa de que isso tivesse ocorrido. "Houve uma grande quantidade de desinformação alimentando a si mesma sobre o suposto uso de armas 'ilegais' por forças dos EUA em Faluja", disse o departamento em seu site na internet. "A verdade é que as forças dos EUA não estão usando armas ilegais em Faluja nem em qualquer outro lugar no Iraque".

Ontem, a rede de TV britânica BBC informou que uma equipe de direitos humanos iraquiana rumou para Faluja a fim de investigar o assunto.

Por sua vez, o ministro da Defesa britânico, John Reid, afirmou que as forças de seu país usaram fósforo no Iraque apenas como cortina de fumaça, para se protegerem em combates. Segundo alegou o Ministério da Defesa, o uso da substância é permitido em batalha desde que não haja civis na área alvo.

- Acho que os americanos têm de responder as perguntas feitas a eles sobre isso. Posso falar apenas pelos britânicos e só usamos (o fósforo) como cortina de fumaça para dar cobertura às nossas tropas - ressaltou Reid à BBC.

Legenda da foto: POLICIAIS IRAQUIANOS mostram marcas da tortura que teriam sofrido no Ministério do Interior em Bagdá após terem sido presos à paisana