Título: CPI DEVE APROVAR CONVOCAÇÃO
Autor: Mônica Tavares/Gerson Camarotti/Luiza Damé
Fonte: O Globo, 18/11/2005, O País, p. 3

BRASÍLIA. Os governistas consideraram um sucesso e até a oposição concordou que o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, saiu-se muito bem na audiência de anteontem no Senado. Mas ele terá que voltar ao Congresso para ser sabatinado sobre as denúncias de corrupção que cercam assessores e ex-assessores de sua gestão como prefeito de Ribeirão Preto.

Sua convocação deverá ser aprovada terça-feira, como acertado ontem na CPI, num raro momento de entendimento entre governo e oposição, representados pelos senadores Tião Viana (PT-AC) e José Jorge (PFL-PE). A tendência, contudo, é que a data fique em aberto.

- Vamos aprovar o requerimento e pilotar. Não tem sentido ouvir o ministro sem antes levantar todas as evidências do caso, ouvindo pessoas e quebrando sigilos. Sem isso, o ministro vai dar uma entrevista coletiva na CPI - disse o senador José Agripino Maia (RN), líder do PFL.

A ida de Palocci à CPI tornou-se inevitável depois que o próprio ministro se pôs à disposição dos senadores para explicar as denúncias. A estratégia da oposição de não usar a audiência para inquiri-lo sobre o assunto também fez com que a convocação fosse irreversível.

Setores do PSDB e do PFL confirmam que não têm interesse em desestabilizar o ministro e a economia. Sobretudo os tucanos, que, pelas pesquisas, acreditam ter perspectiva de voltar ao poder em 2007.

- O ministro por três vezes se disse à disposição da CPI. É um fato novo - afirmou o líder do PSDB, senador Arthur Virgílio (AM).

Para os governistas, o ministro mostrou segurança, rebateu firmemente as denúncias e conseguiu diminuir a intensidade da crise. Já a oposição até elogiou a exposição de Palocci sobre a economia, mas afirmou em coro que ele ainda deve muitas explicações sobre as acusações de seu ex-assessor Rogério Buratti.

- Palocci foi francamente vitorioso. O rescaldo é de absoluta vitória e a retomada da confiança no ministro - disse Tião Viana.

- Eles (governo) montaram um teatro, que tem efeito porque Palocci é jeitoso, simpático. Mas faltam muitas explicações sobre a República de Ribeirão Preto e isso é o que interessa - rebateu José Jorge.

O senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) foi um dos primeiros a ser consultados sobre a antecipação do depoimento do ministro, recebendo uma visita do secretário-executivo da Fazenda, Murilo Portugal. Ele encampou a tese da preservação do ministro, pelo bem da economia. Mas ontem mudou o tom:

- Ele disse que quer vir, então virá. Ontem nós da oposição demos a sustentação ao ministro. Isso foi ontem. Nossa sustentação não pode ser permanente, num país em que escândalos se sucedem.

Virgílio endossou:

- Queremos a economia estável e não queremos desestabilizar o ministro, mas não posso deixar de fiscalizar. Ele não tem salvo-conduto.