Título: No fim do depoimento, Palocci recebeu pedidos até de senadores da oposição
Autor: Adriana Vasconcelos
Fonte: O Globo, 18/11/2005, O País, p. 4

'Lembre-se do senador que não o pertubou na hora de dar aquela canetada'

BRASÍLIA. Ao fim de quase dez horas de depoimento na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), que só acabou à 1h05m da madrugada de ontem, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci - que não ouviu uma única pergunta sobre as denúncias de corrupção envolvendo ex-assessores quando era prefeito de Ribeirão Preto - passou a se preocupar com os problemas paroquiais levados pelos senadores. Ouviu e anotou todo tipo de pedidos, até de representantes da oposição.

Diante da decisão do PFL e do PSDB de não questionar o ministro sobre as denúncias de corrupção, oposicionistas se uniram aos aliados do governo para fazer reivindicações.

O senador Flecha Ribeiro (PSDB-PA) pediu uma solução definitiva para as perdas de estados exportadores prejudicados pela Lei Kandir e a liberação dos R$900 milhões prometidos pela área econômica para o Fundo de Compensação das Exportações. O ministro respondeu:

- Até entendo que alguns estados são mais prejudicados do que outros, como o Pará, mas não é cabível que o governo federal supra impostos estaduais. Ou se faz um fundo de ICMS ou vamos ter sempre governadores reclamando.

Flecha Ribeiro aproveitou a oportunidade e pediu ao ministro liberação de recursos para reclusas no Rio Tucuruí.

Palocci assumiu parte da responsabilidade pela crise

Já o senador Welligton Salgado de Oliveira (PMDB-MG) não se constrangeu em pedir ao ministro que pensasse em seu nome com boa vontade ao liberar recursos para seu estado:

- Lembre-se do único senador que não o perturbou (na audiência) na hora de dar aquela canetada para liberar recursos para Minas Gerais.

Palocci ouviu pacientemente cada um dos 26 senadores que se inscreveram para fazer perguntas. A senadora Ideli Salvatti (PT-SC), uma das últimas a falar, não se conteve:

- Quando eu crescer, quero ter a sua paciência, ministro.

Ao concluir seu depoimento, Palocci lamentou a crise política enfrentada pelo país e seu partido, o PT, assumindo parte de responsabilidade no processo:

- Estou triste com o que aconteceu, mas isso não me desanima. Depois disso que estamos vivendo, certamente o Brasil vai estar melhor. Estou aqui para assumir minha parte em eventuais erros. Se tiver de sofrer um pouco mais, será minha parte do sacrifício.

O ministro teve que ouvir inusitadas críticas de aliados, como da senadora Ana Júlia Carepa (PT-PA), que se aliou à ministra Dilma Rousseff na defesa por mudanças na política de juros e de investimentos definida pela equipe econômica. Palocci foi defendido por um tucano:

- Quero me solidarizar com o ministro Palocci - ironizou o senador Leonel Pavan (PSDB-SC).

Legenda da foto: PALOCCI: "ESTOU triste com o que aconteceu, mas isso não me desanima. Depois disso o Brasil estará melhor"