Título: FH CRITICA 'ULTRA-ORTODOXIA DO PT'
Autor: Regina Alvarez/Isabel Braga
Fonte: O Globo, 18/11/2005, O País, p. 8

Tucanos e petistas trocam farpas no Senado por causa de críticas ao governo

BRASÍLIA. O clima entre petistas e tucanos voltou a esquentar ontem à noite no plenário do Senado por causa de uma entrevista do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em que ele faz duras críticas à política econômica do governo Lula.

Na entrevista à revista "Agenda 45", que será lançada hoje na VIII Convenção Nacional do PSDB, o ex-presidente faz novas críticas ao governo e alerta sobre o alto custo que o país está pagando pelo que chama de ultra-ortodoxia da atual política econômica. Na sua opinião, o Brasil cresce a metade que os demais países emergentes por causa do chamado "custo PT".

"O Brasil paga o preço pela demagogia do PT na oposição. As bravatas de então levaram o PT no governo a ser ultra-ortodoxo na condução da política econômica. A política fiscal foi apertada a ponto de praticamente eliminar o investimento público federal e comprometer serviços fundamentais, a exemplo da vigilância sanitária, como agora se vê o ressurgimento de focos de aftosa em Mato Grosso do Sul. A dose de juros tem sido cavalar. Ao mesmo tempo em que reduz investimento, aumenta o gasto financeiro. Uma combinação ruim para o crescimento", observou o ex-presidente.

Para ex-presidente, é preciso escapar de armadilha

Para Fernando Henrique, é preciso escapar dessa armadilha petista: "A relação entre taxa de câmbio, dívida interna elevada, taxas de juros altos e controle da inflação, nos condena a taxas de crescimento medíocres e desemprego estabilizado em nível elevado. Com a mesma franqueza, devemos alertar a sociedade para a crise fiscal que está sendo semeada pelo atual governo quando, por baixo dos superávits primários para impressionar o mercado financeiro, deixa o déficit da Previdência explodir e inflar os gastos com pessoal".

O ex-presidente atacou também a política do governo petista ao lamentar o desprezo de Lula pelo Congresso: "Basta lembrar a infeliz frase dos 300 picaretas. Como deputado, foi um parlamentar apagado, de um só mandato. Ele não pode tratar parlamentar como mercadoria e fazer do Parlamento um balcão de negócios", salientou.

Na avaliação de Fernando Henrique, os tucanos entram em 2006 com todas as credenciais para disputar a sucessão presidencial, porque são "comprovadamente bons de governo", e porque Lula "faz muito barulho por nada". Valendo-se valendo de um antigo slogan petista, o ex-presidente provocou: "O povo não tem medo de ser feliz. Ele não quer é ser ludibriado".

O líder do governo, senador Aloizio Mercadante (PT-SP), reagiu à entrevista.

- Acho infeliz o pronunciamento do ex-presidente, que deveria fazer uma autocrítica de sua gestão e admitir que não conseguiu resolver o problema do crescimento em seu governo. Não esperava uma análise simplista de alguém que governou o país e deveria ter um pouco mais de humildade - rebateu Mercadante, da tribuna do Senado.

Foi o suficiente para que o líder do PSDB, senador Arthur Virgílio (AM), saísse em defesa de Fernando Henrique.

- Em plena era virtuosa da economia mundial, o Brasil puxa para baixo o índice de crescimento da América Latina. O medo do governo Lula era tão grande em 2002, que vou até ter de perdoar o Banco Central e o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, por terem de ser tão ortodoxos para provar que esse governo não é irresponsável - retrucou o tucano.

Tasso assume hoje a presidência do PSDB

Em tom irônico, o senador Tasso Jereissati disse ter ficado impressionado com a irritação do colega Mercadante com as críticas de Fernando Henrique. Hoje o prefeito de São Paulo, José Serra, passa na convenção o comando do partido ao senador cearense Tasso Jereissati.

- Fiquei realmente surpreso dado o grau de irritação do líder Mercadante com as declarações do ex-presidente Fernando Henrique. E ele fez declarações que, se eu lesse sem saber quem era o autor, ficaria na dúvida se seria uma frase do ex-presidente ou do próprio Mercadante - emendou Tasso.