Título: ASSEMBLÉIA DECIDE DESALOJAR FUNDAÇÃO DE SARNEY NO MA
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Fonte: O Globo, 18/11/2005, O País, p. 15

Ex-presidente chora, passa mal e pede ação da Justiça

SÃO LUÍS e BRASÍLIA. Em mais um round da briga do governador do Maranhão, José Reinaldo Tavares, com o senador José Sarney (PMDB-AP), a Assembléia Legislativa decidiu ontem, por 28 votos a 11, desalojar a antiga Fundação da Memória Republicana, hoje Fundação José Sarney, do Convento das Mercês, fundado em 1654 pelo padre Antônio Vieira, integrante do patrimônio histórico. A Fundação abriga documentos e livros de Sarney, ex-governador do Maranhão e ex-presidente da República, além do mausoléu onde ele quer ser enterrado.

O deputado Aderson Lago (PSDB), autor do projeto aprovado, comparou a decisão da Assembléia à queda da Bastilha na Revolução Francesa.

- É o começo da destruição de um reinado - disse Lago.

- O povo não quer isso. O convento vai voltar para o estado e acabar. Esses deputados foram comprados - reagiu o deputado Carlos Filho (PV), genro da senadora Roseana Sarney.

O secretário de Cultura do Maranhão, Francisco Padilha, disse que o estado vai transformar o convento num espaço de cultura e educação, com biblioteca-escola e oficinas profissionalizantes, e que o acervo de Sarney poderá ocupar uma ala.

O acervo do ex-presidente tem obras de arte, cerca de 40 mil livros, 80 mil manuscritos, 70 mil cartas, material audiovisual, cerca de 1.500 filmes em 16 mm, além de documentos da trajetória política de Sarney. No lugar do mausoléu do ex-presidente, o governo deve construir uma capela para Nossa Senhora das Mercês, sugestão do Papa João Paulo II quando esteve no Maranhão em outubro de 1991.

O Convento das Mercês foi fundado em 1654 pelos padres mercedários, ordem religiosa criada na Espanha no século XIV. Em 1904 o prédio foi comprado pelo governo do Maranhão, que o transformou em quartel da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros. No fim dos anos 80, com Sarney na Presidência, foi reformado. Em 1990 o estado doou o prédio à então Fundação da Memória Republicana, criada por Sarney para manter o acervo de ex-presidentes da República. Dez anos depois, no governo de Roseana Sarney, a instituição passou a se chamar Fundação José Sarney.

"O Ministério da Justiça tem a obrigação de defender"

Em Brasília, exaltado, Sarney atacou a decisão da Assembléia Legislativa e exigiu da presidência do Senado que recorra ao Ministério da Justiça para pedir providências contra a iniciativa de José Reynaldo, um ex-aliado que hoje é o maior inimigo dos Sarney.

- Peço, exigindo e protestando. O Ministério da Justiça tem obrigação de colocar as forças que o país tem, o Exército, a polícia, para defender esse patrimônio - disse Sarney, que chorou e teve de tomar um comprimido durante o discurso.

Na presidência naquele momento estava outro maranhense, o senador Edison Lobão (PFL). Ele disse que deveria ser sóbrio e se limitou a prometer que atenderia à reivindicação de Sarney.

O ato é mais um capítulo da briga entre o governador e o ex-presidente, que se arrasta há mais de dois anos.

- Minha intenção era fazer o que os americanos fazem com as bibliotecas presidenciais. Ao deixar a Presidência, achei que, como intelectual, deveria recolher tudo num local. Para falar mal de mim, vá ao memorial e faça o juízo que quiser - disse Sarney.

Legenda da foto: O MAUSOLÉU DA família Sarney, que deverá ser mudado de local