Título: MINISTRO DA SAÚDE CRITICA INTERVENÇÃO NO RIO
Autor: Tulio Brandão/Demétrio Weber
Fonte: O Globo, 18/11/2005, Rio, p. 17

Saraiva Felipe afirma que decisão de seu antecessor de controlar seis hospitais municipais foi 'um desastre'

BRASÍLIA E RIO. O ministro da Saúde, Saraiva Felipe (PMDB) , criticou duramente a intervenção feita pelo governo federal em seis hospitais administrados pela Prefeitura do Rio. Em entrevista, que foi ao ar ontem na Rádio CBN, ele compara a medida adotada durante a gestão do ex-ministro Humberto Costa (PT) à fumaça:

- A intervenção foi um desastre. Para mim, essa coisa de intervenção só funciona como se fosse fumaça. Em Minas Gerais, a gente fala que onde tem muita fumaça costuma ter pouco fogo. A única intervenção possível é a da articulação institucional, do investimento dirigido, de cobrar do estado o que é responsabilidade do estado.

O ministro Saraiva Felipe falou durante entrevista coletiva realizada anteontem no Hotel Glória sobre a preparação do Brasil para uma possível pandemia de gripe.

O ex-ministro Humberto Costa reagiu às declarações de Saraiva Felipe. Ele disse que a decisão da intervenção não foi exclusiva do Ministério da Saúde, mas sim da coordenação de governo, com o envolvimento direto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que assinou um decreto autorizando a medida.

Costa: "Situação era de calamidade pública"

Costa considerou "desrespeitosa" a forma como seu sucessor tratou do assunto e recomendou que Saraiva busque conhecer melhor os assuntos da pasta antes de fazer "julgamentos precipitados".

- A decisão só foi tomada porque todos os canais de negociação com a prefeitura estavam esgotados e a população sofria as conseqüências. A situação era de calamidade pública - disse Costa, que atualmente é secretário nacional de Comunicação do PT.

Costa disse que o Rio não sofreu uma intervenção, mas sim "a requisição de serviços municipais de saúde". A diferença, segundo ele, é que numa intervenção o governo federal assumiria a gestão de todo sistema de saúde e não de apenas seis hospitais.

Ex-interventor do Ministério da Saúde no Rio, o diretor do Instituto de Traumato-ortopedia, Sérgio Côrtes, preferiu não rebater as críticas de Saraiva Felipe, mas reconheceu que não houve mudanças significativas desde que começou a crise da saúde no Rio:

- Eu apenas atendi ao decreto do presidente. Ele requisitou a administração de seis hospitais municipais. Não cabe a mim avaliar. Mas, na verdade, a gente percebe que houve pouca melhora, porque existe a necessidade da integração do município, do estado e da união. Se a rede não estiver articulada, há sobrecarga.

Comissão de Saúde critica declaração de ministro

O deputado estadual Paulo Pinheiro (PPS), presidente da Comissão de Saúde da Assembléia Legislativa do Rio, discordou frontalmente das declarações do ministro.

- Saraiva Felipe acha que o caminho é o diálogo entre as partes, o que não houve. A prefeitura quis inviabilizar a discussão para derrubar Humberto Costa. Se hoje existe um espaço para a negociação entre as partes, deve-se à iniciativa dura do ex-ministro.

Pinheiro diz que hoje os hospitais administrados pelo governo federal são os que estão em melhor situação, mas ainda longe do ideal.

- Nos hospitais Souza Aguiar e Miguel Couto, entregues ao município após a intervenção, a situação é calamitosa. Faltam equipamentos, remédios e manutenção. Dos quatro que voltaram a ser federais, houve melhora em três. No Hospital de Ipanema, porém, a situação é crítica - avalia o deputado.

O prefeito do Rio, Cesar Maia, disse que a declaração de Saraiva Felipe é abalizada:

- Ninguém tem mais autoridade que o ministro para avaliar as ações do ministério. Não posso julgar o que ocorreu nas unidades federais.

Saiba mais sobre a crise

A intervenção começou com um decreto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em março deste ano. No dia 20 de abril, uma decisão do Supremo Tribunal Federal anulou o controle da União sobre os hospitais municipais Souza Aguiar e Miguel Couto. Duas semanas depois, num acordo entre a prefeitura e governo federal, decidiu-se que o ministério reassumiria quatro hospitais federais que tinham sido municipalizados e repassaria ao Rio R$135 milhões. O convênio só foi assinado em setembro.