Título: MINISTRO NEGA TORTURA EM PRISÃO
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Fonte: O Globo, 18/11/2005, O Mundo, p. 34

Marcados por Abu Ghraib, EUA dizem que não tolerarão abusos

BAGDÁ. Sob uma barragem de críticas por causa do escândalo internacional gerado pela descoberta de prisioneiros desnutridos e com marcas de tortura no porão de um prédio pertencente à sua pasta, o ministro do Interior do Iraque, Bayan Jabor, defendeu-se ontem da acusação de tolerar abuso de direitos humanos.

Segundo ele, que ressaltou que "ninguém foi decapitado ou morto" no cárcere do ministério, os relatos sobre o caso foram inexatos. Jabor disse que, dos 173 presos, "apenas cinco, no máximo sete, apresentavam sinais de espancamento".

- Não aceito nem que estapeiem um preso - defendeu-se ele, contradizendo até mesmo o premier Ibrahim Jaafari, um dos primeiros a admitirem a ocorrência de abusos.

Jabor negou acusações de que teria dado sinal verde a uma milícia xiita ligada a seu ministério para praticar tortura contra os adversários.

- Os guardas são empregados do Ministério do Interior, e não afiliados a esta ou àquela organização - justificou.

A maior parte dos presos encontrados na noite de domingo por soldados americanos é de sunitas, a minoria que apoiava o ditador Saddam Hussein. Jabor também negou que as instalações fossem secretas e disse que ele próprio ordenou que a polícia levasse os presos mais perigosos para lá.

Por sua vez, as autoridades americanas reagiram com firmeza à descoberta dos presos, 18 meses após os militares dos EUA serem atingidos pelo escândalo de torturas na prisão de Abu Ghraib.

- Não toleramos qualquer abuso de detentos no Iraque - enfatizou o porta-voz da embaixada americana, Jim Bullock. - Deixamos claro ao governo iraquiano que não deve haver milícia ou controle sectário das forças iraquianas, das instalações e dos ministérios. O governo iraquiano deve tomar providências para que este tipo de coisa não aconteça mais.

O caso já está sendo investigado por ordem do premier Jaafari e a pedido da ONU. Segundo a Embaixada dos EUA, o Departamento de Justiça americano e o FBI (a polícia federal) ajudarão no inquérito. Mais cedo, o vice-ministro do Interior, o major-general Hussein Kamal, pediu um controle unificado dos centros de detenção iraquianos para evitar casos de tortura no futuro.