Título: Em nota, PT do Amapá elogia prefeito preso
Autor: Emeson Renon
Fonte: O Globo, 11/11/2004, O País, p. 3

Em nota divulgada ontem, o diretório do Partido dos Trabalhadores no Amapá demonstra solidariedade ao prefeito de Macapá, João Henrique Pimentel, preso pela Polícia Federal na madrugada de terça-feira sob a acusação de participar de esquema de fraudes em licitações de obras públicas. Na nota, o partido destaca o modelo de administração desenvolvido pelo prefeito que o reconduziu ao cargo para mais quatro anos.

Ontem, a Justiça Federal em Macapá decretou o bloqueio dos bens de Pimentel; do prefeito de Santana, Rosemiro Rocha; do secretário de Obras de Macapá, Geovani Coleman; do empreiteiro Luiz Eduardo Corrêa, dono da Método Engenharia; e de seu sócio Francisco Leite; e do diretor da companhia Docas de Santana, Rodolfo Juarez. Os seis continuam presos.

Petistas argumentam que João Henrique se apresentou à polícia

Na nota, petistas ressaltaram ainda que João Henrique se apresentou à Polícia Federal assim que tomou conhecimento que estava sendo procurado pela polícia. O partido em momento algum nega as ligações do prefeito João Henrique com o empresário Luiz Eduardo Corrêa, considerado o chefe da quadrilha. Mas reafirma o compromisso do partido com os valores éticos, com moralidade pública e apóia às investigações promovidas pelas autoridades competentes.

O diretório encerra a nota afirmando que o gesto do prefeito em se apresentar é uma demonstração de quem confia nas investigações e na apuração concreta dos fatos. João Henrique está sendo acusado de pedir propina a Luiz Eduardo Corrêa em troca de favorecimento em processos licitatórios.

No fim da tarde, o superintendente da Polícia Federal do Amapá, Aldair Rocha, revelou que seis dos oito deputados da bancada do estado no Congresso têm os nomes citados no esquema de fraudes do processo de licitações. Davi Alcolumbre (PDT), Coronel Alves (PL), Antônio Nogueira (PT) ¿ prefeito eleito de Santana ¿ Benedito Dias (PPS), Hélio Esteves (PT) e Gervásio Oliveira (PDT) são citados nas conversas mantidas entre as pessoas envolvidas.

Pela manhã, o superintendente da PF recebeu uma ligação do deputado Davi Alcolumbre pondo-se à disposição da Polícia Federal para esclarecimentos. O delegado não disse se os deputados serão chamados para depor. Segundo ele, o fato dos parlamentares terem os nomes citados nas gravações ¿não significa que estejam diretamente envolvidos neste processo de fraudes¿.

¿ Isso vai depender do andamento das investigações do Ministério Público Federal. Se eles terão ou não expedidos mandados de prisão, só o órgão pode dizer ¿ disse Rocha.

Os deputados do Amapá Hélio Esteves e Antônio Nogueira confirmaram ontem que conversaram com o Luiz Eduardo Corrêa, dono da Meta Engenharia, sobre liberação de verbas do Orçamento, mas negaram envolvimento com o esquema de desvios de recursos investigados pela Operação Pororoca. Esteves e Nogueira disseram que conversaram com o empreiteiro em dezembro do ano passado. Corrêa teria telefonado para pedir o empenho dos parlamentares na liberação de verbas para as obras de construção do Hospital do Câncer e de revestimento do canal do Beirol. Esteves limitou-se a informar que, mesmo antes do pedido do empreiteiro, solicitara a liberação de R$ 2,2 milhões para o hospital e para o canal.

¿ Ele me ligou para saber se eu tinha posto emenda no Orçamento. Era uma informação que poderia ser dada. Em nenhum momento fiz nada escuso ¿ afirmou Esteves.

Antônio Nogueira disse que também conversou com Eduardo Correia em dezembro. O empreiteiro pediu que o deputado intercedesse em favor da reserva de recursos para o canal Beirol, em Macapá. A base política de Nogueira é Santana, mas mesmo assim o deputado concordou com o pleito do empreiteiro.

Gervásio Oliveira (PDT) e Benedito Dias (PP) não retornaram as ligações. Davi Alcolumbre (PDT) disse, por meio de um assessor, que não daria entrevista por telefone.