Título: MÁ IDÉIA
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Fonte: O Globo, 19/11/2005, Opinião, p. 6

Vai mal, mesmo, a luta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva pela reeleição. Não foi feliz sua comparação com o ex-presidente Juscelino Kubitschek. É sempre prudente dar às pessoas o benefício da dúvida, principalmente quando se trata de presidente da República, como a mais alta autoridade da nação.

Por isso, é preciso considerar que Lula talvez não tenha dimensionado as conseqüências de sua declaração. Talvez não tivesse pensado que a repercussão seria tanta. O interessante é que nem seus ministros e assessores conseguem entender, e, portanto, explicar, a declaração. Na verdade, ninguém sabe de que cabeça saiu essa idéia.

A História do Brasil nos últimos 50 anos não conseguiu gerar outro presidente como JK. Ele foi o grande artífice dos novos tempos. Mineiro bem-humorado, democrata habilidoso, dirigente audacioso, é o responsável direto pelas transformações que levaram o país a alcançar, em pouco tempo, a condição de uma das maiores economias do mundo.

Não é se comparando a JK que Lula vai ajudar a manter viva a memória desse grande brasileiro. Devemos, sim, relembrar sua luta para fazer grandes obras durante o governo; seus depoimentos nos famigerados inquéritos policiais-militares (IPMs) da ditadura; os processos a que respondeu no Supremo Tribunal Federal (STF) que resultaram em nada; as perseguições e as humilhações a que o submeteram os defensores do golpe de 1964; além da incansável e, podemos dizer, inútil vigilância dos arapongas do Serviço Nacional de Informações (SNI) e da Agência Central de Inteligência (CIA) dos Estados Unidos, que o investigaram até depois da morte. Em vez de Lula dizer que JK foi paciente com seus adversários e inimigos, deveria adotar os métodos que ele criou para apurar denúncias de corrupção.

CONTINENTINO PORTO é jornalista.