Título: AS `VIÚVAS¿ DE BRANQUINHA
Autor: Luciana Rodrigues
Fonte: O Globo, 19/11/2005, Economia, p. 32

Falta de emprego leva homens de cidade alagoana a migrarem

BRANQUINHA (AL). A lavadeira Gedilza da Silva Odilon, 38 anos, dois filhos, é uma das mais de três mil mulheres do município de Branquinha, a 65 quilômetros da capital alagoana, conhecida como ¿viúva de marido vivo¿. Seu companheiro, Linaldo Vicente da Silva, 40 anos, depois de mais de dois anos desempregado, juntou-se à legião de trabalhadores rurais desempregados da região levados para trabalhar numa usina de cana-de-açúcar em Campo Novo, em Mato Grosso.

¿ Aqui não tem emprego ¿ diz Gedilza.

No município, o mais pobre da zona da mata de Alagoas, 71,3% do PIB vêm da administração pública. O maior empregador é a prefeitura. Segundo o prefeito, Carlos Eduardo Baltar Maia, a sua folha de pessoal tem 400 servidores e consome R$250 mil mensalmente, quase tudo que o município arrecada:

¿ Nós vivemos assando e comendo.

Branquinha tem pouco mais de 12 mil habitantes. Quem não foi embora trabalha por um salário-mínimo nos períodos de corte de cana. Na cidade não há prédios ou imóveis de luxo. Genival Gonçalves da Silva, 57 anos, não quis deixar a mulher e os quatro filhos para buscar emprego. Por isso, depois de um ano desempregado, aceitou trabalhar como ajudante no único posto de combustíveis da cidade, por um salário-mínimo.

Na cidade, 60% dos jovens e adultos não sabem ler nem escrever. Apenas 10% da população têm banheiro em casa, água tratada e acesso diário à rede de saúde. Os demais lavam roupa, pratos e tomam banho no rio Mundaú, foco de esquistossomose e doenças de pele. Mas o município nem sempre foi tão miserável assim. Em 1969, três usinas geravam mais de 20 mil empregos, antes de falir.