Título: VARIG: FUNDAÇÃO MUDA CONSELHO NOVAMENTE
Autor: Erica Ribeiro
Fonte: O Globo, 19/11/2005, Economia, p. 33

Nova troca de comando tira David Zylbersztajn do poder. Omar Carneiro da Cunha ainda continua na presidência

Um dia depois de o Grupo Varig anunciar um aumento de 155% em seu prejuízo e a demissão de pilotos, a Fundação Ruben Berta (FRB), controladora da companhia, destituiu ontem os membros do Conselho de Administração. Deixaram os cargos o presidente do conselho, David Zylbersztajn, e os conselheiros Omar Carneiro da Cunha ¿ que por enquanto continua na presidência da Varig ¿ Eleazar de Carvalho e Marcos Azambuja. Esse grupo entrou na Varig em maio para tentar achar uma saída para a companhia. Em junho, a Varig ingressou na nova lei de falência com um pedido de recuperação judicial.

Foi nomeado para comandar o conselho Humberto Rodrigues Filho, ex-diretor de Logística da Varig. É a oitava vez que há troca de comando na empresa desde 2000.

Segundo o presidente do Conselho de Curadores da FRB, Cesar Curi, a medida faz parte do processo de abertura da empresa para a participação de credores e investidores no conselho. Curi acrescentou que a manutenção de Omar Carneiro da Cunha na presidência da empresa será uma decisão do novo Conselho de Administração:

¿ A fundação está abrindo espaço para a entrada de novos conselheiros. É um processo que já estava previsto em um fato relevante divulgado pela fundação em outubro e importante para a recuperação da empresa.

Fontes do setor dizem, no entanto, que o resultado ruim do balanço da Varig, que registrou prejuízo de R$778 milhões de janeiro a setembro, acelerou a saída dos conselheiros, além das divergências entre a administração da Varig e a controladora.

Zylbersztajn disse que não vai contestar a decisão dos controladores. Segundo ele, o motivo dado pela FRB para a destituição foi o fato de que havia uma informação sobre ¿demandas¿ pela saída dos gestores:

¿ Não vamos questionar a decisão da controladora e não vejo qualquer questão que fira as práticas convencionais. Diversas vezes tivemos divergências ou não convergências com a fundação e desde o primeiro dia sabíamos que um dia iríamos sair. Tomara que tudo dê certo para a empresa porque a Varig merece sobreviver. O que nos preocupa é que a Varig está perto da aprovação do plano de recuperação. Mas a fundação deve ter pensado nisso e certamente tem soluções para a questão.

O advogado Sergio Bermudes deixou de representar a Varig no processo de recuperação judicial. Segundo ele, seu escritório estava integrado ao grupo destituído. Segundo fontes do setor, os escritórios Ulhôa Canto e José Luiz Bulhões Pedreira também deixarão de representar a empresa na recuperação judicial.

Juiz diz que não há anormalidade no processo

O juiz da 8ª Vara Empresarial do Tribunal de Justiça do Rio, Luiz Roberto Ayoub, disse que soube da destituição dos gestores da Varig pela imprensa e que, mesmo sob administração judicial, a controladora da companhia não perde o poder de, por exemplo, mudar o time de gestores.

¿ Não vejo qualquer anormalidade no processo de recuperação por causa disso. No mundo dos negócios é comum a troca de gerentes e isso não interfere no andamento da recuperação ¿ afirmou o juiz.

Para o analista Marcelo Ribeiro, da corretora Pentágono, a principal preocupação da Varig agora é não deixar que a saída dos gestores prejudique os processos em andamento. Segundo o analista, será preciso manter a tranquilidade de credores, investidores, empresas de leasing e a Corte de Falências em Nova York:

¿ As propostas da TAP, o interesse em seguir como investidora em uma segunda fase do processo de recuperação da Varig, a negociação com as empresas de leasingg, tudo estava mais ou menos andando. Não se pode acusar a atual gestão como responsável por todos os problemas que resultaram em um balanço tão ruim no terceiro trimestre. O fato é que se esta medida não for bem vista por credores e investidores, a Varig pode se deteriorar rapidamente.

Recentemente, em um processo para dar caixa emergencial à Varig para pagar às empresas de leasing, TAP e investidores brasileiros e de Macau compraram a VarigLog e a VEM, com financiamento do BNDES.

Para a presidente do Sindicato Nacional dos Aeronautas, Graziella Baggio, sempre houve falta de habilidade do conselho para lidar com questões trabalhistas e credores:

¿ A recuperação judicial também foi um ato precipitado. Agora acredito que os credores serão mais complacentes