Título: TRABALHO: OPORTUNIDADES E REMUNERAÇÃO DESIGUAIS
Autor: Demétrio WEber, Flávia Oliveira e Ronaldo D'Ercole
Fonte: O Globo, 19/11/2005, Economia, p. 35

Dos rendimentos dos trabalhadores brasileiros, 75% vêm de homens e mulheres brancos

No documento que compara as condições de vida dos negros e dos brancos brasileiros, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) chama a atenção para as desigualdades no mercado de trabalho, que se refletem tanto nas oportunidades de empregos quanto na baixa remuneração. Do total de rendimentos apurados pelos trabalhadores brasileiros, metade vem dos homens brancos e um quarto, das mulheres brancas. Os homens negros detinham 18% da renda e as mulheres negras, apenas 8%.

¿Embora os negros representem 44,7% da população do país, sua participação chega a 70% entre os 10% mais pobres e seus rendimentos, somados, correspondem a 26% do total apropriado pelas famílias brasileiras¿, resume o relatório.

O texto dedica boa parte de seu terceiro capítulo a listar as desigualdades do mercado de trabalho. Revela que o Brasil tem a sexta maior diferença de rendimentos entre brancos e não-brancos (124,8%) de 15 países latino-americanos. Só ganha de Haiti, México, Paraguai, Equador e Guatemala. A renda média dos brancos em 1980 já era superior à dos pretos e pardos em 2000.

A publicação analisa ainda a taxa de desemprego de negros e brancos. Conclui que a situação dos primeiros é sempre pior ¿ sejam eles homens ou mulheres. A população afrodescendente está em maioria também no emprego precário (sem carteira assinada ou por conta própria).

O vendedor ambulante João Antonio Jorge da Silva, de 46 anos, confirma a percepção dos pesquisadores. Ele começou a trabalhar aos 16 anos como auxiliar de limpeza numa escola de São Gonçalo, cidade onde nasceu e se criou. Desde então, foi funcionário de um estaleiro, de uma empreiteira que prestava serviços à extinta Telerj e vigilante de agência bancária. Foi este seu último emprego com carteira assinada, há mais de dez anos.

Aposentado por invalidez, Silva divide com um primo uma barraca de bijuterias no camelódromo da Rua Uruguaiana, no Centro do Rio. Por semana, fatura de R$100 a R$200. É de lá que tira a maior parte de sua renda, já que do INSS recebe pouco mais de um salário-mínimo. Em uma década como ambulante, Silva observa com uma ponta de tristeza a quantidade de jovens que hoje iniciam a vida profissional como camelôs:

¿ Tem cada vez mais jovens no comércio de rua. Uma pena. O país tinha que abrir fábricas para empregar essas pessoas e dar um salário legal aos jovens. (Flávia Oliveira)