Título: ESSA DERROTA, O GOVERNO TERÁ QUE ENGOLIR, DIZ ACM
Autor: Regina Alvarez
Fonte: O Globo, 19/11/2005, Economia, p. 38

Senadores do PFL, PSDB e PDT não registraram presença

BRASÍLIA. Ao radicalizar contra a MP 258, que criou a Super-Receita, a oposição liderada pelo PFL e pelo PSDB voltou a mostrar comportamento semelhante ao que tanto criticava na época em que o PT estava na oposição. A disposição de ignorar na discussão o conteúdo da medida e levar a decisão apenas para o campo da briga política ficou muito clara na reunião de líderes realizada no gabinete do presidente do Senado, Renan Calheiros, na manhã de ontem. O senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) era o mais tenso e mostrou-se irredutível na disposição de derrotar o governo.

¿ Ajudamos o Palocci, mas essa derrota o governo vai ter que engolir. Resumindo, nós saímos vitoriosos dessa, nós ganhamos ¿ afirmou ACM, referindo-se ao depoimento do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, na quarta-feira à Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, considerado um sucesso pelo governo.

Não foi a primeira vez que a oposição recorreu a manobras previstas no regimento para impor derrotas políticas ao governo, mesmo concordando com a importância das medidas em questão. A mesma estratégia foi usada para derrubar a chamada MP do Bem. Apesar de defender a proposta de reduzir a carga tributária, a oposição impediu que a MP fosse votada. A saída foi levar as mudanças para outra MP e fazer um acordo com a oposição.

Em meados deste ano, a Câmara aprovara a MP do governo que elevava o mínimo para R$300, mas quando a medida chegou no Senado o PFL propôs um valor muito maior, aumentando os gastos da Previdência a um nível praticamente insustentável. Na época em que estavam no governo e eram vítimas dessas manobras, acusavam a oposição de irresponsável ao impedir mudanças que consideravam importantes para o país apenas por questões políticas.

Na sessão de ontem do Senado havia em plenário número suficiente de senadores para que a votação fosse realizada, mas os representantes do PFL, PSDB e PDT não registraram presença. Com isso, não foi possível obter o quórum mínimo de 41 senadores para iniciar a votação. Desde que a MP 258 chegou ao Senado, na quinta-feira passada, os líderes da oposição fecharam questão em torno da obstrução e não aceitaram discutir o mérito da MP, o que abriria espaço para um acordo com o governo. A oposição manteve um discurso afinado, alegando que não é contra a Super-Receita, mas não aceita que a medida seja aprovada em prazo tão curto e sem discussão mais profunda.

¿ O Senado está recebendo goela abaixo um texto que foi discutido por muito tempo na Câmara. Não sei se é defeituoso e votá-lo assim seria uma irresponsabilidade ¿ disse o líder do PFL no Senado, Agripino Maia (RN). (R.A.)