Título: AI PEDE QUE UE INVESTIGUE PRISÕES DA CIA
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Fonte: O Globo, 19/11/2005, O Mundo, p. 41

ONU recusa oferta de visita a Guantánamo sem entrevistas individuais com presos

LONDRES. Uma série de críticas aos EUA marcou ontem a abertura de uma conferência organizada pela Anistia Internacional (AI) em Londres para discutir a tortura e outros tipos de violação dos direitos humanos na guerra ao terror. Além das farpas lançadas por ativistas como Clive Stafford Smith ¿ um dos únicos advogados independentes com acesso a Guantánamo ¿ o evento contou com a presença de dois representantes de uma comissão da ONU vetados num pedido de visita à prisão americana em Cuba.

Smith aproveitou para afirmar que a Polônia seria o país europeu que, segundo uma reportagem do ¿Washington Post¿, abrigou campos de detenção secretos para suspeitos de terrorismo a pedido das autoridades americanas. A diretora-geral da AI, Irene Khan, pediu à União Européia uma investigação rigorosa e acusou o governo Bush de tentar legalizar a tortura.

¿ O terrorismo é uma violação dos direitos humanos e que quem pratica tais atos tem que ser punido. Mas isso não justifica que a guerra contra o terror seja baseada em violações tão graves das leis básicas de proteção ao ser humano, ainda mais por um país que se autodenomina defensor da liberdade e da democracia ¿ afirmou Khan.

EUA teriam sob custódia 14 mil suspeitos de terrorismo

Paul Hunt, representante da ONU, disse que Washington impediu procedimentos básicos para uma avaliação imparcial das condições dos detentos de Guantánamo, como a oportunidade de entrevistas reservadas. Ele e o argentino Leandro Despouy tiveram seus nomes vetados pelos EUA para visitar Guantánamo, mas Washington se dispôs a abrir a base aos outros três integrantes da equipe da ONU. Estes, no entanto, mantiveram-se firmes na posição de só aceitar o convite se puderem conversar com os presos.

¿ A posição do governo Bush é no mínimo ridícula. Se a Cruz Vermelha e mesmo advogados já tiveram acesso a Guantánamo, como é que a ONU ainda não conseguiu, ainda mais diante dos muitos relatos sobre a deterioração física e mental dos detentos, incluindo tentativas de suicídio? ¿ perguntou Hunt.

O evento contou com três suspeitos de terrorismo com passagem pela prisão em Cuba: os russos Airat Vakhitov e Rustam Akhmiarov e o britânico Moazzam Begg. Segundo a Anistia, há hoje cerca de 14 mil suspeitos de terrorismo sob custódia dos EUA, o que reforça suspeitas de que o país mantém diversos centros de detenção.