Título: Rossetto diz que não há necessidade de sem-terra fazerem novembro vermelho
Autor: Luiza Damé e Flávio Freire
Fonte: O Globo, 11/11/2004, O País, p. 15

Após reunião com o comando nacional do Movimento dos Sem-Terra (MST), o ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto, disse que não há necessidade de os colonos intensificarem as invasões, num movimento batizado de ¿novembro vermelho¿. Gilmar Mauro, um dos integrantes da direção nacional do MST, avisou, no entanto, que o movimento vai continuar pressionando o governo para avançar na reforma agrária e não descartou novas invasões.

¿ O MST vai continuar pressionando e negociando, sem se aliar ao governo de forma chapa-branca. Temos nossa autonomia e o governo, a dele. A jornada vai acontecer e está acontecendo nos estados no intuito muito mais de resolver problemas regionais, do que propriamente de uma ação nacional ¿ disse Gilmar Mauro, que foi ao Palácio do Planalto participar da abertura de uma exposição.

Governo terá dificuldade para cumprir metas

Para ele, é provável que o governo não consiga cumprir as metas por problemas internos e pelas dificuldades na liberação de recursos. O dirigente dos sem-terra disse, no entanto, que a expectativa para 2005 é positiva, especialmente porque há possibilidade de mudança nos critérios de produtividade das terras, o que tende a aumentar a oferta de áreas para desapropriação.

¿ Estão faltando recursos prometidos pelo Ministério da Fazenda, que não foram liberados. Então é muito cedo para fazer um balanço das metas deste ano. Vamos continuar negociando e pressionando, no sentido de acelerar os processos e criticar quando há problemas e morosidade ¿ afirmou Gilmar Mauro.

Segundo Rossetto, em 2004, o governo assentou 92.700 famílias e deverá ampliar esse número até o fim do ano. A meta do governo é de 115 mil famílias.

¿ Asseguramos 92.700 mil famílias. Temos dois meses e uma expectativa de crescimento. Estamos dando conta de todo o plano de reforma agrária, apesar do retardo provocado por três meses de greve do Incra. Estamos empenhados para ampliar esses números que já são muito fortes para o programa de assentamento e reforma agrária ¿ afirmou o ministro.

Sem-terra ocupam fazenda no interior de São Paulo

Nos últimos dias, aconteceram ocupações de fazendas e prédios públicos, além de bloqueios em rodovias. Desde o início do mês, o MST agiu em 11 estados, entre eles Rio de Janeiro e Sergipe. Ontem cerca de 500 famílias invadiram a Fazenda Rio Prado, uma área de 26 mil hectares em Iaras, que pertence à família J.J. Abdala. Não houve confronto com a polícia, segundo dirigentes do MST, mas seguranças armados estariam ameaçando os sem-terra para deixar a área. A fazenda tem 20 mil hectares que começaram a ser ocupados há um ano.