Título: Abrindo os fundos
Autor: Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 23/11/2005, O GLOBO, p. 2

Os governos Lula e Fernando Henrique serão colocados no banco dos réus quando o deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA) apresentar à CPI dos Correios seu relatório sobre irregularidades na gestão dos fundos de pensão. O pefelista trabalha com uma força-tarefa de especialistas, do governo e do mercado, que já concluiu que os fundos tiveram prejuízos de milhões de 2000 a 2005.

O relatório sobre os fundos, que será submetido ao plenário da CPI no dia 6 de dezembro, vai mostrar quais as operações de mercado que deram prejuízo aos diversos fundos, o período em que elas foram feitas e quais os operadores de mercado (corretoras e bancos) que lucraram. Cauteloso, Antonio Carlos Neto diz que será preciso continuar a investigação, com novas quebras de sigilo bancário, para acompanhar o percurso do dinheiro e chegar aos beneficiários das operações danosas à gestão dos fundos.

¿ Nós estamos investigando as operações atípicas em relação às praticadas no mercado. Os fatos investigados revelam que ocorreram operações atípicas também no governo anterior. Ninguém espere que eu vá aliviar para quem quer que seja. Não vou fazer nada partidário ¿ afirma Antonio Carlos Neto.

O parlamentar não admite, mas técnicos da CPI dizem que além do valerioduto a investigação sugere conexões com o ex-diretor do Banco do Brasil Ricardo Sérgio, o ex-ministro das Comunicações de Fernando Henrique Luiz Carlos Mendonça de Barros, e até mesmo com o ex-governador do Rio de Janeiro Anthony Garotinho, no caso da Prece, o fundo de pensão dos funcionários da Cedae.

Uma outra vertente da investigação refere-se aos contratos com empresas prestadoras de serviços. A força-tarefa, comandada pelo pefelista, elaborou uma lista de contratos que fogem aos padrões de mercado celebrados por 14 fundos de pensão. E vai encaminhar aos fundos um pedido de explicações antes de concluir pela existência de irregularidade. Nesse capítulo aparece com desenvoltura a empresa de consultoria Globalprev, que já teve como sócio o ex-ministro Luiz Gushiken.

O sub-relator da CPI reconhece que seu primeiro relatório ainda não conterá todas as respostas. Mas assegura que será o começo de uma nova investigação. E nessa segunda fase, Antonio Carlos Neto está convencido de que chegará aos beneficiários dos prejuízos que a má gestão legou aos fundos de pensão.