Título: Palocci defende ex-assessores de Ribeirão Preto
Autor: Maria Lima e Martha Beck
Fonte: O Globo, 23/11/2005, O País, p. 8

Muitas vezes são atribuídas a essas pessoas denúncias e elas não têm sequer o direito de se defender¿, afirma

BRASÍLIA. A oposição jogou duro, com críticas pesadas à atuação do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, mas não conseguiu em momento algum surpreendê-lo. A seu modo, Palocci respondeu a quase tudo, embora quase sempre com evasivas. Mas foi enfático na defesa de ex-assessores da prefeitura de Ribeirão Preto que estão sendo alvo de investigações por denúncias de corrupção inclusive envolvendo o Ministério da Fazenda e caixa dois para as campanhas do PT. Nessa defesa, Palocci disse que a maioria das denúncias resulta de perseguição política.

¿ O Juscelino Dourado era funcionário administrativo, pessoa de muita transparência, prestou todos os esclarecimentos à CPI. Não pedi para Juscelino sair do ministério. Isabel Gordini é técnica dedicada e honrada. Ademirson é um funcionário simples. Muitas vezes são atribuídas a essas pessoas denúncias e elas não têm sequer o direito de se defender. É lamentável que autoridades públicas ajam dessa maneira ¿ disse o ministro, referindo-se a ex-assessores. ¿ Minha equipe de Ribeirão não era suficiente para dar conta das tarefas da Fazenda, da Receita, do Tesouro. Escolhi uma equipe (no ministério) sem filiação partidária. Com exceção do Bernardo Appy, os outros eu nem conhecia ¿ disse sobre a equipe do ministério.

Juscelino era chefe de gabinete

Juscelino Dourado foi um dos poucos amigos de Ribeirão Preto que Palocci levou para a Fazenda, onde ocupava o cargo de chefe de gabinete até meses atrás. Juscelino pediu demissão após as denúncias de suas intensas ligações com Buratti, quando acabou reconhecendo que recebia o amigo de Ribeirão no seu gabinete no ministério.

O líder do PSDB, Alberto Goldman (SP), o interpelou para saber por que até hoje ele não processou o ex-secretário de governo na sua primeira gestão como prefeito Rogério Buratti, que acusou a existência de uma caixinha de empresas prestadoras de serviço em Ribeirão Preto. Palocci simplesmente respondeu que não o fez, do mesmo modo que não processou jornalistas responsáveis por matérias que considera mentirosas a seu respeito.

¿ Algumas pessoas sofrem perseguição política por terem sido meus assessores no passado, infelizmente. Nenhum de nós está acima de qualquer suspeita. Neste caso, fitas sigilosas (com o depoimento de Buratti) foram transmitidas a uma emissora de TV. Tenho os nomes da Polícia Civil que fizeram isso, mas não quero conturbar o ambiente político ¿ disse Palocci.

O ministro reafirmou que o ex-assessor Buratti, com quem manteve relações mesmo depois da sua demissão da prefeitura, mentiu no depoimento no Ministério Público:

¿ O depoimento dele (Buratti) é absolutamente inverídico. Mas não vou processá-lo neste momento, nem ele, nem jornalistas, nem veículos da imprensa. Seria, de certa forma, usar o peso do Ministério da Fazenda nas investigações. Não quero constranger ninguém ¿ disse Palocci.

Tucano leva pequena cutucada

o tucano Alberto Goldman criticou ainda o fato de o ministro ter usado critérios políticos para indicar chefias para cargos importantes como o Instituto de Resseguros do Brasil (IRB), o Banco do Brasil e a Casa da Moeda.

¿ Muitos respondem a acusações e estão sob investigação. Foram indicados por critérios políticos e a função era assaltar os cofres públicos ¿ atacou Goldman.

Palocci manteve a calma de sempre e respondeu, mas com pequena cutucada no tucano:

¿ Ter militância política não é um pecado. O presidente do BC, Henrique Meirelles, é do seu partido e renunciou ao mandato para ajudar o país. Não podemos condenar pessoas por ter filiação política. Em todos os partidos e governos existem desvios ¿ respondeu Palocci.