Título: Fita põe deputado sob suspeita de homicídio
Autor: Carla Rocha
Fonte: O Globo, 11/11/2004, Rio, p. 19

Um trecho de gravação ainda não revelado promete sacudir com uma denúncia ainda mais grave o escândalo da Loterj. Um deputado do Rio, acusado de corrupção e que está envolvido no caso, poderá ter que responder por homicídio. Ontem, a fita, que era mantida em sigilo, foi ouvida pela promotora Dora Beatriz Wilson da Costa, da 1 Promotoria de Investigação Penal do Ministério Público estadual. O órgão é responsável pelo inquérito que apura irregularidades na Loterj durante a gestão de Waldomiro Diniz, ex-presidente da empresa e ex-assessor do Planalto.

Os advogados Marcelo Jacob Borges e Jeovah Vianna Borges, do empresário do setor lotérico Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, tiveram um encontro reservado com a promotora ontem, quando foi apresentado o trecho da fita que tem boa qualidade e já teria sido periciado. Nela, apareceria o deputado conversando com um intermediário de Carlinhos Cachoeira e afirmando que teria reunido um grupo de homens em Bangu para vingar a morte de um segurança que fora assassinado.

Político já teve cinco funcionários assassinados

Procurada, Dora Beatriz confirmou ter recebido a denúncia, mas diz que só poderá tecer considerações sobre a veracidade dela após comprovar a realização de perícia técnica.

¿ A fita é claríssima, mas ainda estamos com informações preliminares. Entretanto, caso se comprove a autenticidade da gravação e que se trata da voz do deputado, pedirei autorização para abrir inquérito, porque ele tem imunidade parlamentar ¿ disse a promotora Dora Beatriz.

O deputado é um político veterano, que tem reduto na Zona Oeste e já cumpriu várias legislaturas. Nos últimos anos, teve pelo menos cinco funcionários assassinados em circunstâncias não esclarecidas.

Empresário teve segurança reforçada

Os mesmos advogados de Cachoeira já protocolaram petição no MP, afirmando que o empresário está disposto a colaborar com as investigações, pedindo apenas para ser ouvido em Goiânia, já que estaria correndo risco de vida. Carlinhos Cachoeira fez um pedido de proteção e teve a segurança reforçada nos últimos dias.

Na quarta-feira da próxima semana, todas as fitas do caso deverão ser entregues à promotora. Em seguida, ela deverá convocar imediatamente para depor o intermediário que gravou a conversa com o deputado. Os registros policiais de assassinatos em Bangu que possam estar ligados aos fatos denunciados também serão pedidos à delegacia local.