Título: FAO: FOME MATA 6 MILHÕES DE CRIANÇAS POR ANO
Autor:
Fonte: O Globo, 23/11/2005, O Mundo, p. 34

Maioria das mortes é causada por doenças curáveis às quais organismos debilitados não conseguem resistir

ROMA. Cerca de seis milhões de crianças morrem a cada ano de fome e desnutrição no mundo, sendo que a maioria delas morre porque essas condições debilitam seus sistemas imunológicos, tornando-as incapazes de resistir a doenças curáveis, como diarréia, sarampo e malária. A denúncia consta do mais novo relatório sobre a fome realizado pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO).

Apresentado ontem na 33ª conferência bianual da FAO, e com dados relativos ao ano passado, o documento considera indispensável o combate à desnutrição ¿ que atinge 852 milhões de pessoas no mundo ¿ para que sejam atingidos todos os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, com os quais governantes de 189 países se comprometeram em 2000.

Na América do Sul, a fome diminui rapidamente

Reduzir a fome e a pobreza extrema até 2015 é o primeiro desses objetivos. Entre os outros estão a igualdade entre os sexos; a luta contra a mortalidade infantil, a Aids e outras doenças; e a melhoria da saúde materna. ¿A maior parte desses objetivos não será alcançada sem um compromisso mais sério e sem progressos mais rápidos¿, adverte o diretor-geral da FAO, Jacques Diouf, no prefácio do relatório.

As melhores notícias da FAO vêm da América do Sul e do Caribe, únicas regiões em desenvolvimento onde, segundo o estudo, a fome diminuiu rapidamente a partir de 1990. A Ásia e o Pacífico têm ¿boas possibilidades¿, enquanto na África Subsaariana a fome diminui ¿muito lentamente¿. Já no Oriente Médio e no Norte da África, a incidência de fome é baixa, mas nos últimos dez anos aumentou.

Solução depende de investimentos e estabilidade

¿Se cada região em desenvolvimento continuar a reduzir a fome no ritmo atual, só a América do Sul e o Caribe alcançarão os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio¿, diz Diouf no relatório. ¿Nenhum alcançará o mais ambicioso objetivo da Cúpula Mundial de Alimentos (1996): reduzir à metade o número de famintos.¿

De acordo com o documento, só quatro dos 16 países onde mais de 35% da população estão subnutridas têm tido progresso. Nos outros, o índice é variável ou, o que é pior, aumenta. Esse grupo inclui o Haiti e 13 países da África Subsaariana.

A FAO assinala que três em cada quatro pessoas que sofrem com a fome no mundo vivem em regiões rurais: ¿Nessas regiões está a maioria das quase 11 milhões de crianças que morrem antes de completar cinco anos, das 530 mil mulheres que morrem durante a gravidez ou no parto e dos 300 mil casos de malária aguda¿, afirma.

Para acabar com a fome, diz a FAO, é preciso aumentar a produção agrícola ¿ com investimentos, bons governos, estabilidade política e paz interna ¿ bem como ¿uma educação de qualidade para as crianças das áreas rurais e uma melhora das condições da mulher¿. Só assim, adverte, será possível tornar realidade uma declaração feita na Cúpula Mundial sobre Alimentação: ¿Todas as pessoas têm o direito fundamental de não passar fome.¿