Título: `O CUSTO POR ALUNO É MUITO ALTO¿
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Fonte: O Globo, 21/11/2005, O País, p. 3

O ministro da Educação, Fernando Haddad, admite que os salários dos professores em greve nas universidades federais são baixos. Haddad defende, no entanto, a adoção de medidas para tornar as instituições mais eficientes, de modo a aumentar o número de estudantes sem a necessidade de novas contratações. Até o fim deste ano, o ministro entregará um estudo sobre o assunto à Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes).

Os salários dos professores das universidades federais são baixos?

FERNANDO HADDAD: Os professores já ganharam muito melhor. Defendo política de recomposição gradual de salários. A meta é dar ganhos acima da inflação. Os professores ganham menos do que deveriam. Há espaço para recomposição.

Por que a defasagem salarial?

HADDAD: Este é o primeiro mandato presidencial, desde a estabilização da moeda, em 1994, em que haverá ganho real para todos os docentes. Se esta proposta de R$500 milhões (gasto extra do governo com salários em 2006) for aprovada, teremos garantido que todo professor e técnico-administrativo terá recebido, em quatro anos, um reajuste acima da inflação. Não haverá um único docente sem ganho real. Ainda assim há descontentamento porque a defasagem é grande.

Por que o governo não corta o ponto dos grevistas?

HADDAD: Isso não é questão de governo. Há um decreto que regulamenta a matéria e atenuou o que previa decreto anterior. Faz recair a responsabilidade pela informação ao superior imediato do servidor que não comparece ao trabalho. Depende da autarquia. Até porque o MEC não tem condições operacionais de fazer isso.

O MEC não se esconde atrás desse decreto?

HADDAD: Não. Tenho poucos funcionários no MEC. Qual seria a alternativa? Como se resolve praticamente essa questão?

Por que ocorrem tantas greves nas universidades federais?

HADDAD: A universidade pública vive um paradoxo: o custo por aluno da educação superior pública é muito alto em relação ao custo aluno da educação básica, ao mesmo tempo em que o professor ganha mal.

GLOBO: Por que isso ocorre?

HADDAD: Em países onde o ensino superior é majoritariamente público, o número de alunos por docente em regime integral chega a ser o dobro do Brasil. Na França, o sistema tem média de 32 alunos por docente em tempo integral. Na Áustria, 36. O Brasil, é inferior a 20, se usarmos o conceito de aluno equivalente (em que alunos de cursos como medicina, que exigem turmas menores, têm peso maior).

Como mudar essa realidade?

HADDAD: Temos uma convicção que está se firmando, mas não é definitiva, que o número de alunos em sala de aula é pequeno, principalmente à medida que o curso avança, por causa da evasão. Há departamentos de grandes universidades onde entram 100 alunos e, ao final, menos de dez concluem. Ou seja, 90 se evadem. O problema não é apenas se evadirem, mas não serem repostos. O sistema público poderia estar absorvendo muitos talentos que têm dificuldade de pagar mensalidade no sistema particular.

Por que isso não ocorre?

HADDAD:Por causa da departamentalização das universidades. Hoje o aluno entra num curso de filosofia, não gosta, quer fazer física, é obrigado a fazer um novo vestibular. A universidade muitas vezes não tem política de preenchimento de vagas ociosas. Muitas vezes há resistência em absorver alunos da rede particular.

O MEC pensa em propor outras mudanças?

HADDAD: Há indivíduos na comunidade científica que acham que o aluno fica muito tempo em sala de aula e pouco tempo estudando. E que deveríamos prever mudanças. Dizem que o aluno estuda pouco e assiste a muitas aulas. Levei esta preocupação aos reitores na Andifes e agora vamos encaminhar um estudo sobre o assunto até o fim do ano.

Quantas vagas poderiam ser criadas com essas novas medidas?

HADDAD: Ainda não sabemos, é preciso ver curso a curso. (D.W.)