Título: PAÍS VULNERÁVEL
Autor:
Fonte: O Globo, 20/11/2005, Opinião, p. 6

Um estudo do banco de investimento americano Goldman Sachs deu esperanças de que a antiga, surrada e desacreditada profecia do Brasil como "país do futuro" possa um dia se realizar. A análise abrange o Brasil, a Rússia, a Índia e a China, batizados de Bric, e projeta para o grupo um cenário de leite e mel. Prevê que, em 40 anos, os Brics possam ser maiores que o atual G-6 (Estados Unidos, Japão, Alemanha, França, Inglaterra e Itália). O Brasil é candidato à quinta economia mundial, atrás de China, EUA, Índia e Japão.

Como todo exercício de futurologia, este também deve ser encarado com algum ceticismo, embora venha de fonte mais confiável do que futurólogos livres atiradores que já produziram análises semelhantes. Reconheça-se, é um estudo animador. As dúvidas surgem quando se avaliam as virtudes e os pontos fracos de cada um dos aspirantes a potência - ressalve-se a China, que já pode ser considerado sócia do clube dos grandes.

Nesse sentido, a grande fragilidade brasileira, até mesmo decisiva para a concretização ou não das projeções do Goldman Sachs, está na educação. De todos os Brics, o Brasil é o mais mal situado nessa questão vital.

O último livro do colunista do "New York Times" Thomas Friedman ("The world is flat", "O mundo é plano") é um estridente alerta. Uma história bem detalhada de como a revolução da internet e a globalização se entrelaçam, o livro alerta os EUA para o grande risco de serem derrotados na corrida pelo conhecimento travada com a China e o bloco asiático. O que esperar, então, do Brasil nesse mundo em que a capacidade de competir depende de uma população bem instruída e em constante aperfeiçoamento? Muito pouco ou nada.

Basta constatar que há 39 universidades federais em greve desde o fim de agosto; que a proposta de reforma universitária não se preocupa como deveria com a avaliação de mestres, alunos e instituições, e com o mérito; que corporações de professores e servidores públicos da área são cada vez mais influentes para defender interesses e privilégios próprios, desconectados de uma verdadeira política educacional.

Os brasileiros não devemos nos enganar. Se nada for feito, a sigla Bric perderá uma letra mais cedo ou mais tarde.

Educação pode frustrar projeções positivas para o Brasil