Título: EM 25 ANOS, 978 DIAS DE GREVE NAS FEDERAIS
Autor: Demétrio Weber
Fonte: O Globo, 20/11/2005, O País, p. 8

Segundo o Andes, a soma das paralisações nas universidades desde 1980 totaliza três anos e meio de aulas

BRASÍLIA. Sonho de grande parte dos vestibulandos, as universidades federais já enfrentaram 16 greves nos últimos 25 anos. Balanço do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes) mostra que, desde 1980, as paralisações nas federais somam 978 dias, o equivalente a dois anos e oito meses. Descontados os fins de semana e levando em conta que um ano letivo tem 200 dias úteis, é possível afirmar que a soma das greves nas federais totaliza três anos e meio de aulas. Ou seja, tempo suficiente para concluir-se uma graduação tecnológica ou para se chegar ao último semestre de cursos de administração, psicologia ou publicidade, cuja duração é de quatro anos.

A greve mais longa durou 108 dias, em 2001, no segundo mandato do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Antes, em 1998, outra paralisação já havia interrompido as aulas por 104 dias. Depois de enfrentar duas greves relativamente mais curtas, o governo Lula encara neste momento uma paralisação que já se arrasta por 83 dias.

- A principal vítima sempre são os estudantes, que correm o risco de perder o ano letivo. Sem falar das perdas econômicas de quem muda de cidade para estudar e fica aí sem aula - diz o presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Gustavo Petta.

Do ponto de vista dos vestibulandos, as universidades federais têm dois poderosos atrativos: não cobram mensalidades e figuram entre as instituições com melhores resultados nas avaliações do Ministério da Educação. Mas quem entra na federal sabe que corre risco de não ter aula por causa de greves.

Apenas em 2002 não teve greve

Desde 2000, por exemplo, o balanço do Andes mostra que só não houve paralisação em 2002. Os dias parados costumam ser repostos, muitas vezes avançando sobre os feriados do Natal, Ano Novo e verão adentro. O resultado natural é a perda da qualidade:

- Um dos ônus da greve é exatamente a reposição, que não deixa de ter características emergenciais - diz o presidente do Conselho Nacional de Educação, Roberto Claudio Bezerra.

Para o ex-ministro da Educação Paulo Renato Souza, as assembléias de deflagração das greves permitem a politização dos movimentos grevistas e a condução da maioria silenciosa de professores por uma minoria que comparece:

- O baixo clero dos professores é que vai para as assembléias, mantém a greve e constrange os demais docentes. Como não há regulamentação, as greves no setor público são impunes - diz Paulo Renato, sugerindo o corte do ponto dos professores e a suspensão do pagamento de salários enquanto durar a paralisação.

O secretário-executivo adjunto do MEC, Ronaldo Teixeira, responsável pela negociação com os professores, informa que não há orientação do governo nesse sentido. Na gestão de Paulo Renato isso chegou a ser feito, mas os salários costumam ser pagos mediante a reposição de aulas.

O presidente da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), Oswaldo Baptista Duarte Filho, diz que a greve pára as aulas e não as atividades de pesquisa, o que aumenta a dificuldade para identificar os professores que devem ter o ponto cortado.

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MEC acusa sindicato de intransigência

BRASÍLIA. O secretário-executivo adjunto do Ministério da Educação (MEC), Ronaldo Teixeira, encarregado das negociações com os professores, acusa o Andes de partidarizar o movimento de greve. O impasse levou o governo a anunciar a intenção de enviar ao Congresso um projeto de lei com a sua proposta de reajuste, que acarretará custo adicional de R$500 milhões em 2006. Era o que o Andes não queria, pois no Congresso é pequena a margem de manobra para alterar o projeto.

- No momento em que há intransigência, sem contraproposta, fica claro que a direção da categoria passa a se submeter a orientação político-partidária - disse Teixeira.

A presidente do Andes, Marina Barbosa, é simpatizante do PSOL. O vice-presidente Paulo Rizzo é ex-filiado ao PT. A diretoria tem filiados ao PSTU e militantes de PSB e PT.

O MEC aposta no esvaziamento da greve, que atingiu 39 instituições, segundo o Andes, e 32, de acordo com o governo. O governo oferece aos professores reajuste médio de 9,45% do salário-base, enquanto o Andes reivindica 18%. A proposta aumenta em 50% as gratificações por titulação e diminui a diferença entre ativos e aposentados, além de atender à reivindicação de criar a categoria de professor associado, um novo degrau na carreira docente. O Andes quer o fim das diferenças de gratificação entre ativos e inativos.