Título: Urutu, do símbolo do poderio à decadência
Autor: Chico Otávio/Alexandre Galante
Fonte: O Globo, 20/11/2005, O País, p. 12

Exército precisa substituir blindados, mas verba de R$35,1 bi do Ministério da Defesa em 2006 é insuficiente

Fabricado pela Engesa no auge da indústria bélica brasileira, o Urutu serve de símbolo para a história recente do Exército. Durante quase três décadas, foi um dos ícones do poderio militar do país, mesmo sem ter participado de um combate real. Foi às ruas duas vezes (no Rio, na Rio-92 e na Operação Rio em 1994), ajudou na repressão a movimentos grevistas nos anos 80 e atualmente carrega as forças de paz no Haiti. Como a tropa a que serve, vive dias mais tristes, à beira da aposentadoria. Representa agora a decadência de uma força que precisa se renovar para não perder a capacidade de atuar na defesa do país.

Assim como a Marinha e a Aeronáutica, o Exército padece de obsolescência em bloco. Alguns dos equipamentos mais importantes das três forças estão chegando ao fim da linha ao mesmo tempo. Os caças Mirage IIIE, espinha dorsal da Força Aérea, serão desativados no mês que vem. No Exército, a família de blindados sobre rodas e equipamentos de artilharia antiaérea precisam ser substituídos. E na Marinha, a armada sofre baixas graduais: uma das fragatas inglesas acaba de ser desativada, para virar peça de reposição de outras três e de três contratorpedeiros.

- O país está em situação delicada na área de defesa. A cada ano, o investimento é menor. Vamos ficar descobertos até 2008 - afirma Expedito Carlos Stephani Bastos, pesquisador de Assuntos Militares da Universidade Federal de Juiz de Fora.

O Orçamento da União de 2006 prevê, para o ano que vem, recursos da ordem de R$35,1 bilhões para o Ministério da Defesa. Especialistas do setor consideram a verba insuficiente para garantir um sistema de defesa adequado. Além da falta de dinheiro, alguns projetos desenvolvidos para modernizar as Forças Armadas não saíram do papel. Para discutir essas questões, empresários do setor de segurança nacional, pesquisadores e representantes do Exército e da Aeronáutica se reuniram esta semana, em São Paulo, no 23º Fórum de Debates Projeto Brasil sobre tecnologia militar.

Novas unidades para agir em áreas dominadas pelo tráfico

O Exército precisa logo substituir os blindados Urutu e Cascavel. Tem 224 urutus e previa repotenciar 45. Destes, 20 estarão no Haiti e os demais, nas unidades. Os outros podem ser usados até o fim da vida útil. Para isso, terá de comprar alguns carros blindados de transporte de pessoal. O ideal é partir para um veículo nacional com tração nas seis rodas. Ele seria similar, mas com blindagem melhor e sistema de suspensão independente.

Um dos empregos do futuro veículo é transportar as brigadas de garantia da lei e da ordem (GLOs), unidades especializadas criadas recentemente para atuar em situação extrema, como áreas dominadas por narcotraficantes. Sete mil homens estão sendo treinados e equipados com cassetetes elétricos, bombas de gás, spray de pimenta indiana, balas de borracha e cães.

O DILEMA ENTRE REATIVAR E IMPORTAR na página 14